O Nascimento da música: a metáfora em Eugénio de Andrade

Abstract

Na poesia de Eugénio de Andrade as metáforas e as imagens enraízam na sua quase totalidade, de um modo explícito ou implícito, no universo materno, para onde tudo tende a ser reconduzido. E é sobretudo pela ausência que vemos definir-se o mundo da mãe; pela ausência e pela ânsia recuperadora da fruição e aconchego, através da qual a criança acede ao mundo, e, em particular, ao mundo do desejo. Por outro lado, esta poesia configura uma das mais expressivas manifestações da erotização do corpo pleno na poesia portuguesa moderna e contemporânea. Este estudo trata essencialmente da metáfora materna e da metáfora do desejo na obra de Eugénio de Andrade. Procura seguir-se de perto, ao longo da obra, numa linha diacrónica (de “As Mãos e os Frutos”, 1948, até “O Outro Nome da Terra”,1988), o modo como as metáforas obsessivas ocorrem e desaparecem ou como se metamorfoseiam, imprimindo à própria leitura uma diversidade de ritmos (do passo a passo da regular e lenta travessia, aos saltos, avanços e recuos).