Entre os jardins pitorescos e a ecologia urbana: da estética ao ócio

Abstract

O tema desta dissertação ancora-se na exploração de possíveis relações entre os conceitos de pitoresco, conforme discutido por intelectuais e jardineiros paisagistas em Inglaterra durante o século XVIII, e a atual tendência para certo tipo de investigação e prática científica da ecologia urbana – aqui centrada nas figuras de Gilles Clément e Matthew Gandy –, que se dedica ao estudo e defesa de vazios urbanos tomados pela natureza, em estado ‘selvagem’. O que une estes dois objetos, ou que os torna relacionáveis, é o facto de ambos pressuporem uma certa adulação pela natureza ‘como ela é’, ou como ‘deveria ser’ para ser e parecer natureza. É certo que ambos emergem em contextos e épocas diferentes, e por isso adquirem sentidos diferentes: o conceito de pitoresco tem raízes na pintura e na arte, e originou se a partir da representação de paisagens, objetos e cenas que destacavam elementos peculiares, em vez de procurar a perfeição ou a idealização; a ecologia urbana tem como suporte a ciência, dado que se concentra sobretudo na resiliência dos ecossistemas e na forma como os espaços vazios nas cidades são importantes para a biodiversidade. Através da análise minuciosa das influências recíprocas entre estes dois momentos, este estudo propõe uma exploração aprofundada de como as conceções estéticas do passado podem enriquecer abordagens atuais para os desafios ambientais nas áreas urbanas. Esta pesquisa concentra-se em desvendar como ideias e ideais do pitoresco podem lançar uma nova luz sobre a maneira como compreendemos e moldámos os ambientes urbanos do século XXI, à medida que a sociedade enfrenta questões prementes relacionadas à sustentabilidade e à qualidade de vida nas cidades.

The theme of this dissertation is anchored in the exploration of possible relationships between the concepts of the picturesque, as discussed by intellectuals and landscape gardeners in England during the 18th century, and the current trend of a certain type of scientific research and practice in urban ecology – centered here around the figures of Gilles Clément and Matthew Gandy – which is dedicated to the study and preservation of urban voids taken over by nature, in a 'wild' state. What unites these two objects, or makes them relatable, is the fact that both presuppose a certain adulation for nature 'as it is,' or as 'it should be' to be and appear as nature. It is true that both emerge in different contexts and times, and therefore acquire different meanings: the concept of the picturesque has its roots in painting and art, originating from the representation of landscapes, objects, and scenes that emphasized peculiar elements rather than seeking perfection or idealization; urban ecology is supported by science, as it mainly focuses on the resilience of ecosystems and how empty spaces in cities are important for biodiversity. Through a meticulous analysis of the reciprocal influences between these two moments, this study proposes an in-depth exploration of how past aesthetic conceptions can enrich current approaches to environmental challenges in urban areas. This research focuses on unveiling how ideas and ideals of the picturesque can shed new light on how we understand and shape 21st-century urban environments as society faces pressing issues related to sustainability and quality of life in cities.