Miguel Torga: o chão e o verbo

Abstract

Na sua função de catálogo, este livro opera um registo da exposição sobre Miguel Torga, mas como documento prolonga-a necessariamente. A ordenação de uma vida, a partir dos dados exteriores, impõe-se numa mostra amplificadora como a que aqui se apresenta no Espaço Miguel Torga. O itinerário apoiado na linha do tempo pode ser a primeira porta de acesso à exposição. Nas suas etapas mais significativas, dar-se-á a conhecer o trajecto delineado pela vida e pela obra de Torga, revelando-se, deste modo, a extensão e a coerência do percurso de um dos maiores escritores de língua portuguesa do século XX. Pretendendo que a presente mostra sirva de ponto de partida para um conhecimento efectivo da obra torguiana, optou-se pela inclusão de excertos do próprio autor no painel da cronologia, a enquadrar situações, a revelar momentos e lugares, a conduzir, enfim, ao caminho da leitura. A impossibilidade manifesta de se conter uma vida e uma obra numa sequência de acontecimentos, como aquela que é oferecida pela tábua cronológica, conduziu à apresentação de outros núcleos expositivos. Uma proliferação de zonas temáticas acabou por convergir em três eixos aglutinadores: o retrato, a terra, a escrita. E se a vida não é um fluxo ininterrupto, na reunião de peças soltas das três secções não deixou de actuar um pregnante sentido estruturador: dentro de cada secção, os fragmentos surgem sequencializados. A oportunidade dada ao visitante de traçar percursos decorre da intrínseca diversidade rítmica que norteou a exposição e que se sustenta nas conexões possíveis entre os diferentes núcleos. Alguns dos tópicos biobibliográficos colocados em evidência na cronologia serão reencontrados nos outros painéis, oferecendo-se, assim, a possibilidade de uma aproximação feita de pausas, de avanços e de recuos. Os painéis temáticos (“Retrato”, “O chão e o verbo I”, “O chão e o verbo II”) apresentam alguns testemunhos e depoimentos críticos sobre Torga, mas propõem-nos essencialmente as palavras do autor. Também este caminho se impôs: apresentar os versos e as reflexões do escritor sobre si mesmo, sobre as suas obsessões, sobre a própria criação.