Utilize este identificador para referenciar este registo: https://hdl.handle.net/1822/84145

TítuloClarice Lispector: figuras da escrita
Autor(es)Sousa, Carlos Mendes de
Data20-Dez-2000
EditoraUniversidade do Minho. Centro de Estudos Humanísticos (CEHUM)
Resumo(s)[Excerto] Prólogo: Quando, há pouco mais de uma década, tive a oportunidade institucional de escolher alguns assistentes para leccionarem na Universidade do Minho disciplinas das áreas de Teoria da Literatura, de Literatura Portuguesa e de Literatura Brasileira, tive a sorte e a alegria de poder contratar o Carlos Mendes de Sousa. Fora meu aluno no curso de mestrado de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, curso que viria a concluir, em janeiro de 1989, com a defesa da dissertação sobre a metáfora na poesia de Eugénio de Andrade. Quer ao longo dos seminários do curso, quer ao longo da elaboração da referida tese, admirei nele a finura da inteligência hermenêutica e a emoção, discreta mas intensa, que fecundava o seu trabalho intelectual. Foi por lhe reconhecer um conjunto incomum de qualidades de inteligência, que propus ao Carlos Mendes de Sousa um desafio que haveria de marcar o seu percurso universitário: realizar o seu doutoramento na área da Literatura Brasileira, de modo a assumir a responsabilidade, com a indispensável legitimidade académica, do ensino daquela disciplina no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho. A sua dissertação de doutoramento, defendida com segurança no dia 29 de Fevereiro de 2000, e que agora se publica, foi a culminação de um projecto de investigação em que o Carlos Mendes de Sousa se empenhou profunda e demoradamente. Graças a uma bolsa de estudo proporcionada pela Fundação Calouste Gulbenkian, de Fevereiro a Agosto de 1992, pôde trabalhar em diversas bibliotecas e centros especializados de documentação do Rio de janeiro, aí recolhendo um rico manancial de informação que constituiu, digamos assim, a ''pedra de canto", sob o ponto de vista da scholarship, da construção da sua tese. Carlos Mendes de Sousa manifesta um conhecimento minudente, acurado e critico, da bibliografia activa e passiva de Clarice Lispector, sabendo utilizar com pertinência textos e fragmentos textuais menos conhecidos de Clarice (entrevistas, cartas, notas esparsas, etc.) que a sua investigação naqueles centros e bibliotecas lhe dera a conhecer. O objectivo central do projecto de investigação e da tese do Carlos Mendes de Sousa é de natureza eminentemente hermenêutica: a leitura dos sentidos dos textos de Clarice, a compreensão da sua obra literária e dos seus fundamentos e horizontes poetológicos. Na Babel da hermenêutica contemporânea, evita a errância radical da procura e da geração de sentidos, reconhecendo a relevância teórica e metodológica do "momento estrutural", de filiação demaniana e de raiz ingardeniana, na arquitectura da investigação e da tese. A lógica do "momento estrutural" articula-se sem violência com a lógica da ratio textus que o último Umberto Eco contrapôs às aventuras e aos delírios da hiperinterpretação. O caminho hermenêutico assim escolhido é iluminado, na senda de algumas sugestões propiciadas por Eduardo Prado Coelho, por conceitos deleuzianos como devir, rizoma, multiplicidades, linhas de fuga, desterritorialização ou dobra. Trabalhando hermeneuticamente com dispositivos retóricos, com figuras, que se eximem a cálculos semânticos exactos e conclusos, a racionalizações perfeitas, o Autor sabe que não pode construir uma totalidade de sentidos, limpa de resíduos e, sobretudo, isenta de áreas turbulentas, obscuras e mesmo opacas. O labor hermenêutico é assim intrínseca e inelutavelmente um ensaio) uma indagação) uma leitura que se sabe parcelar e precária e que, por isso mesmo, reforça e depura os seus próprios dispositivos de rigor. O subtítulo desta obra, Figuras da escrita, poderia indiciar a inscrição deste estudo num domínio retórico-formalista circunscrito ao âmbito da elocutio. Seria criar uma expectativa de leitura transviada. Carlos Mendes de Sousa trabalha com um conceito retórico-poiético da figura e sabe - como todos deveríamos saber, depois de Freud- que as figuras retórico-poiéticas transportam uma energia fantástica, anímica e libidinal, que as torna irredutíveis a categorais retórico-formalistas. A esta luz, o trabalho da escrita é indissociável do trabalho do escritor sobre si próprio como pessoa, como sublinhou com angústia a própria Clarice, que desde muito cedo teve a consciência de que a sua entrega compulsiva à escrita) ao desejo da escrita, era a única possibilidade de escapar ao vazio e à loucura. A hermenêutica da escrita clariciana ganha assim a densidade ôntica e antropológica de uma indagação) também ela tecida no hermeneuta de desejo) ansiedade e espanto, sobre os enigmas, os segredos, as zonas informes e inomináveis, as vertigens e os êxtases, do ser e da existência. Braga, 5 de Fevereiro de 2001 VÍTOR AGUIAR E SILVA
TipoLivro
URIhttps://hdl.handle.net/1822/84145
ISBN972-98621 -6-8
AcessoAcesso aberto
Aparece nas coleções:CEHUM - Livros e Capítulos de Livros

Ficheiros deste registo:
Ficheiro Descrição TamanhoFormato 
Clarisse_Lispector_Figuras_da_escrita.pdf98,32 MBAdobe PDFVer/Abrir

Partilhe no FacebookPartilhe no TwitterPartilhe no DeliciousPartilhe no LinkedInPartilhe no DiggAdicionar ao Google BookmarksPartilhe no MySpacePartilhe no Orkut
Exporte no formato BibTex mendeley Exporte no formato Endnote Adicione ao seu ORCID