O empenhamento dos indivíduos nas organizações e nas profissões: uma avaliação dos efeitos das actividades extra-laborais

Abstract

O conceito de empenhamento tem atraído a atenção de investigadores e práticos nas últimas décadas, revelando uma crescente popularidade na literatura de comportamento organizacional. O empenhamento tem sido associado a importantes resultados organizacionais, tais como o desempenho, o turnover, o absentismo, a pontualidade e os comportamentos de cidadania organizacional. De todos os focos estudados, o empenhamento na organização é o que tem suscitado maior interesse junto da comunidade académica e dos gestores, primeiro como constructo unidimensional e, mais recentemente, como constructo multidimensional. A presente investigação assenta no pressuposto de que há vários focos de empenhamento, com relevência para a gestão e para o comportamento dos indivíduos em contexto de trabalho, nomeadamente o empenhamento na organização e o empenhamento na profissão. Os dois focos de empenhamento foram conceptualizados como constructos multidimensionais, na linha dos trabalhos de Meyer e Allen (1991). A maior parte das pesquisas sobre os antecedentes do empenhamento tende a enfatizar as características pessoais e situacionais e a capacidade destas na explicação do empenhamento. São poucos os estudos sobre a relação entre o empenhamento e o domínio extra-laboral. Esta investigação avalia a relação entre um conjunto de variáveis do domínio extra-laboral e os focos de empenhamento na organização e empenhamento na profissão. Como a pesquisa assenta numa abordagem multidimensional, são ainda explorados os efeitos de algumas variáveis extra-laborais nas dimensões afectiva, instrumental e normativa dos dois empenhamentos. Foram inquiridos académicos e profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) de quatro organizações, tendo sido recebidos 534 questionários válidos. Os resultados indicam que os profissionais aqui inquiridos estão mais empenhados na profissão do que na organização. Os dois focos de empenhamento apresentam uma correlação positiva moderada, o que suporta a perspectiva da compatibilidade entre os dois focos de empenhamento. Os níveis de empenhamento afectivo são superiores aos níveis de empenhamento instrumental e normativo, em ambos os focos de empenhamento. Diversas variáveis extra-laborais estão correlacionadas com os focos e dimensões de empenhamento na organização e empenhamento na profissão. Todavia, a análise multivariável mostra que o valor preditivo associado às variáveis extra-laborais é relativamente fraco. As variáveis extra-laborais incluídas no estudo não explicam uma parte significativa da variância dos dois focos de empenhamento e de cada uma das suas três dimensões. Embora diferindo consoante os focos e as dimensões consideradas, o envolvimento na comunidade aparece como uma variável explicativa da maior parte dos modelos, o que justifica uma maior atenção da gestão a esta dimensão da vida dos seus empregados.

The concept of organizational commitment has attracted the attention of academics and practitioners since the 1960s, and has grown in popularity in the literature of organizational behaviour. Commitment has been shown to predict important work outcomes such as performance, turnover, absenteeism, tardiness and citizenship behaviours. Of all forms of commitment it is organizational commitment that has always enjoyed greater interest amongst academics and managers, first as a unidimensional construct and more recently as a multidimensional construct. This study is based on the assumption that commitment has various foci, namely the organization and the profession. Both commitment foci were conceptualized as multidimensional constructs, in line with the works of Meyer e Allen (1991). Previous findings have emphasized personal and situational antecedents and its ability to predict commitment. Far less attention has been devoted to commitment and its relation with non-work variables. This research examines the relationship between non-work variables and commitment to the organization and to the profession, and their impact on the affective, instrumental and normative dimensions. Academics and health care professionals (doctors and nurses) from four different organizations were surveyed and a total of 534 usable questionnaires were returned. The findings reveal that the surveyed professionals are more committed to their profession than to their organization. The organizational and professional commitments show a moderate positive correlation. The levels of affective commitment are higher than the levels of instrumental and normative commitments, in both commitment foci. Various non-work variables were found to be correlated with the different commitment dimensions. However, the regression models reveal that the predictive value of the nonwork variables is relatively weak. Findings also suggest that non-work variables that enter the composition of the predictive models differ according to the dimension and commitment foci. Nonetheless, the community involvement seems to have some explanatory power in most predictive models. Management implications of these findings are also discussed.