O trabalho de campo nos cursos de formação de professores de ciências da natureza das escolas superiores de educação : da formação facultada às representações sobre as práticas implementadas

Abstract

No ensino das Ciências, torna-se particularmente importante o uso de estratégias que motivem os alunos para os conteúdos a aprender, nomeadamente no que respeita a temas sócio-científicos. Um dos recursos que pode ser útil na consecução deste objectivo é o Trabalho de Campo (TC). O valor educativo do TC resulta do facto de permitir que os alunos contactem directamente com os fenómenos naturais contactem com a natureza. O TC pode motivar os alunos para aprender e prepará-los para actuarem como cidadãos informados relativamente ao ambiente. Contudo, tem-se constatado que a motivação não é suficiente para que os alunos consigam uma aprendizagem significativa de conceitos, nem para os fazer adquirir hábitos e destrezas científicas. Actualmente os professores de Ciências da Natureza (2º ciclo do Ensino Básico) são principalmente formados nas Escolas Superiores de Educação (ESE). Este estudo teve como objectivos: analisar o papel do TC nos planos de estudo dos cursos de formação de Professores do Ensino Básico – Variante Matemática e Ciências da Natureza, das ESE ; analisar as opiniões dos professores de Ciências da Natureza formados nas ESE relativamente à formação que lhes foi facultada e ao valor pedagógico dessa formação. A análise dos programas e objectivos das disciplinas dos cursos de três ESE (Bragança, Porto e Viana do Castelo) permitiu concluir que a na maioria das situações o TC não é considerado. Os resultados do questionário, respondido por 104 professores de Ciências da Natureza, indicam que, de uma forma geral, o número de professores que não abordou o papel do TC nem o implementou. Por outro lado, permitiu constatar que os professores que usaram TC com os seus alunos recorreram principalmente a actividades centradas no professor, limitando-se os alunos a seguir um guião. Neste contexto parece pertinente que seja dada mais relevância ao TC de modo a que os professores tomem consciência das suas vantagens e o usem cada vez mais nas nossas escolas.

Science teaching should acknowledge teaching strategies that motivate students to the contents to be learned, namely to socio-scientific issues. One of the resources to be included in such strategies is fieldwork. The educational value of fieldwork lies in the fact that it enables students to interact with natural phenomena and to get in touch with nature. Thus, it can be thought as motivating students to learn and equipping them to act as informed citizens that are respectful to the environment. However, it is worth noticing that motivation is not enough to lead neither to meaningful conceptual learning nor to the acquisition of scientific skills. In addition, fieldwork is seldom carried out in science education. On the other hand, research has shown that the use of fieldwork in science teaching hardly contributes to students understanding of scientific concepts. Although there may be several reasons for this, there is some consensus around the idea that teacher education does not equip teachers with the necessary competencies to design and use fieldwork in an appropriate way. Nowadays, Natural Sciences teachers (5th and 6th grades) are mainly formed in the Schools of Higher Education. Thus, the objectives of this study are: to analyse the role given to fieldwork in the Natural Sciences teacher education programmes offered by the Schools of Higher Education ; to diagnose the opinion of science teachers that graduated from Schools of Higher Education on the education given to them on fieldwork as well as on its pedagogic value. The analysis of undergraduate programmes and syllabuses from three Schools of Higher Education (Bragança, Porto and Viana do Castelo) showed that most of the science curses do not include fieldwork. The results of the questionnaire answered by 104 Natural Sciences teachers indicate that the majority of the teachers had neither learned about fieldwork nor carried out fieldwork activities during their undergraduate programmes. It also showed that teachers that had put fieldwork into practice with their pupils used mainly teacher centred activities with the students following a worksheet. Thus, teacher education programmes should give more relevance to fieldwork, so that teachers can become aware of its educational value, and increase the frequency and the quality of fieldwork activities.