Clubes virtuais de leitura: práticas e competências leitoras

Abstract

Inúmeros estudos têm demonstrado os benefícios cognitivos, económicos e sociais oriundos da prática generalizada da leitura. Neste contexto, diversas iniciativas de promoção de leitura têm sido promovidas pelo governo português: primeiramente, [o Programa] Rede de Bibliotecas Escolares - PRBE -, lançado em 1996, pelos Ministérios da Educação e da Cultura; posteriormente, o Programa Nacional de Promoção da Leitura, implementado em 1997, da responsabilidade do extinto Instituto Português do Livro e das Bibliotecas do Ministério da Cultura; mais recentemente, o Plano Nacional de Leitura, iniciado em 2006, da responsabilidade do Ministério da Educação, em articulação com o Ministério da Cultura e o Gabinete dos Assuntos Parlamentares. Esta última diligência incluía, no seu plano para 2006/2007, no que concerne à população escolar do terceiro ciclo, as estratégias seguidamente enunciadas: “Prémios de Leitura com apoio da Comunicação Social”, “tempo lectivo dedicado à realização de actividades de leitura”, “utilização nas aulas dos recursos disponíveis nas Bibliotecas Escolares”, “clubes de leitura entre pares”, “feiras do livro”, “concursos”, “jogos”, “comunidades de leitores”, “apoio a blogs e chat-rooms sobre livros, jornais e revistas e sobre leitura” ou, por outras palavras, Clubes Virtuais de Leitura (CVL). Os Clubes Virtuais de Leitura são grupos de pessoas que se encontram para discutir livros e/ou leituras, num ambiente online e que, simultaneamente, podem ser passíveis de contribuir para o fomento de hábitos de leitura, bem como para o desenvolvimento da competência leitora, comummente avaliados como deficitários no que respeita à população estudantil portuguesa. Com efeito, a literatura sobre estes recursos mostra que a interação social, facultada pela tecnologia, designadamente pelas ferramentas da geração Web 2.0 (o blogue, as plataformas de aprendizagem, etc.), promove a literacia, a cognição, o desejo de ler, bem como hábitos de leitura (Balling, Henrichsen, & Skouvig, 2008; English, 2007; Fister, 2005; Gambrell, 2006; Grisham & Wolsey, 2006; Scharber, 2009; Wolsey, 2004, entre outros). Partindo da questão “Como é que os hábitos de leitura e as competências de literacia dos discentes são desenvolvidos no âmbito de um CVL?”, propusemo-nos estudar um Clube Virtual de Leitura de uma escola básica, com os seguintes objetivos principais: identificar e relacionar dimensões do desenvolvimento de competências e de hábitos de leitura. Nesse sentido, os nossos objetivos específicos foram os seguidamente enumerados: 1) descrever o Clube Virtual de Leitura quanto: a) aos objetivos que guiaram o seu desenvolvimento, b) aos recursos tecnológicos que integraram, c) às atividades específicas que incluíu, d) aos sujeitos que nele participaram; 2) caracterizar a atividade do CVL quanto: a) aos modos de participação dos seus membros, b) às finalidades de comunicação; 3) tipificar mudanças nos comportamentos comunicativos e de leitura dos participantes, analisando a forma e o conteúdo das participações; 4) relacionar as alterações verificadas com a forma como o clube foi sendo implementado; 5) identificar os indicadores que mostram o sucesso do CVL enquanto comunidade de aprendizagem; 6) caracterizar o papel do professor-moderador na dinamização do clube. Nestas circunstâncias, recorrendo ao estudo de caso, estudámos o caso do Clube Virtual de Leitura de um agrupamento de escolas do ensino básico, sito na região de Lisboa, no decurso de um ano letivo. Realizámos um estudo de caso - tendo como propósito fulcral retratar o caso em apreço -, metodologia mais consentânea com o objetivo da nossa investigação, recorrendo à triangulação de dados, nomeadamente questionário, entrevista, bem como observação e, por inerência, utilizámos métodos quantitativos e qualitativos. Os dados recolhidos são indicadores de que o clube virtual de leitura descrito, integrado em contexto educativo, criou condições para o fomento de hábitos de leitura, bem como para o desenvolvimento da competência leitora, graças à interação social entre os alunos, propiciada pelas aplicações Web 2.0, e estimulada de forma ativa, vigilante e criativa pela professora-moderadora.

Several studies have shown that cognitive, economic and social benefits emerged from the practice of reading. In this context, plenty of reading initiatives have been promoted by the Portuguese Government: first, School Libraries Network, launched in 1996, by the Education and Culture Ministry; later, The National Program for Reading Promotion, implemented in 1997, by the gone Portuguese Institute of Books and Libraries of the Ministry of Culture; more recently, the National Reading Plan, began in 2006, by the Education Ministry, the Culture Ministry and the Office of Parliamentary Affairs together. The last mentioned action included in its plan for 2006/2007, the following strategies: “reading awards supported by Social Communication”, “teaching time devoted to reading activities”, “the use, in the classrooms, of the resources available in the School Libraries", “peer reading clubs”, “books markets”, “contests”, “games”, “communities of readers”, “support to blogs and chat-rooms about books, newspapers, magazines and readings” or, in other words, Virtual Reading Clubs (VRC). Virtual Reading Clubs are groups of people who meet to discuss books and/or readings, in an online environment and, at the same time, they can contribute to the incitement of both reading habits and reading literacy, usually considered in international studies under average as far as Portuguese students are concerned. Indeed, the literature in this field of knowledge shows that the social interaction, provided by technology, particularly by the Web 2.0 tools (blog, learning platforms, etc..), promotes literacy, cognition, the reading desire, and reading habits (Balling, Henrichsen, & Skouvig, 2008; English, 2007; Fister, 2005; Gambrell, 2006; Grisham & Wolsey, 2006; Scharber, 2009, Wolsey, 2004, among others). Our research question was: How do students reading habits and skills develop with the experience of being members of a VRC?”. Our core aims were to identify and relate the development dimensions of the above-mentioned skills and habits. Using the descriptive case study methodology, we studied the case of a Lisbon Middle School's virtual reading group, during an academic year. Our research used triangulation of methods, namely survey, interview, as well as observation and, therefore, we used both quantitative and qualitative methods. Collected data revealed that the school reading club studied created conditions to the development of reading habits and skills thanks to the social interaction among teenagers conferred by Web 2.0 technologies and stimulated by the moderating-teacher in an active, vigilant and creative way.