A imagem da mulher no cinema: representações do feminino em Jane Campion, Sally Potter e Marleen Gorris

Abstract

Este trabalho é um estudo da representação feminina no grande ecrã, tendo em conta vários estereótipos atribuídos à mulher pelo cinema dominante, isto é, o cinema de Hollywood. Se a mulher é, frequentemente, representada em relação ao homem, como objeto de contemplação, então qual será o seu lugar na narrativa, e como espectadora? Para além da ausência feminina no grande ecrã, a mulher é também ausente como espectadora, sendo que, para que ela se identificar ou obter prazeres visuais (Laura Mulvey) da imagem que lhe é apresentada, ela tem de recorrer a processos de transformação sexual, em que ganha características masculinas, e por isso, irá adquirir uma “máscara” (Joan Rivière), para que esta proximidade ao homem seja mantida. Neste sentido, na tentativa de compreender a representação contemporânea da mulher no cinema, usei dois filmes de cada uma das seguintes realizadoras: Jane Campion, Marleen Gorris e Sally Potter. Estas realizadoras expressam, através dos seus filmes, diferentes modos da representação feminina. Enquanto Jane Campion parece levar as suas heroínas numa viagem pela descoberta da sua sexualidade, The Piano (1993) e The Portrait of a Lady (1996), Marleen Gorris, parece, pelo contrário, fazer uma reflexão sobre o papel e a importância da mulher na sociedade patriarcal, Mrs. Dalloway (1997), ou representar a liberdade feminina, longe da influência do poder dominante, e a sua resistência contra essa influência, Antonia’s Line (1995). Por fim, Sally Potter, é uma realizadora que põe em causa a diferença do género com o seu filme Orlando (1992), e apresenta uma luta equilibrada pelo poder entre Sally e Véron, em The Tango Lesson (1997).

This work is a study about the representation of the feminine on film, based on several stereotypes given to women in the dominant cinema, that is, the Hollywood cinema. If woman is often shown in relation to her relationship with men, as an object of visual pleasure, then what is her place in the narrative and her place as a feminine spectator? Besides the feminine absence on the big screen, women are also absent as spectators, given that, in order for them to identify themselves as the dominant power or obtain visual pleasures (Laura Mulvey) of the image they are presented with, they have to resort to processes of sexual transformation, in which they gain masculine features, and thus, they are going to acquire a ‘mask’, so that this proximity to the man can be maintained (Joan Rivière). In the attempt to understand the contemporary representation of women in the cinema, I studied two films from three feminine directors: Jane Campion, Marleen Gorris and Sally Potter. These directors express, through their films, different ways of feminine representation. While Jane Campion takes her heroines through a journey where they find their sexuality, such as, The Piano (1993), and The Portrait of a Lady (1996), Marleen Gorris chooses, on the contrary, to make a reflection about the role and importance of women in the patriarchal society, Mrs. Dalloway (1997), or a representation of the feminine freedom and strength, away from the influence of the patriarchal power, Antonia’s Line (1995). Finally, Sally Potter explores the questions of gender in Orlando (1992) and shows a balanced fight for power between Sally and Véron, in The Tango Lesson (1997).