Modos (ím)pares de “viver a paz”: significados construídos com crianças em contexto de jardim de infância

Abstract

Esta investigação tem por base uma análise sociológica da participação e agência pacifista das crianças, num quadro de relacionamento interdependente e de reconhecimento mútuo intra e intergeracional. Paralelamente, convoca uma abordagem reflexiva e crítica do conceito de poder a partir das atuais discussões dos campos da Sociologia da Infância e dos Estudos para a Paz e constitui se como contributo para a reconstrução do pensamento sociológico sobre a infância, necessariamente transdisciplinar, de raiz não dicotómica e sociologicamente atento à reconstrução teórica e paradigmática da sociologia. O enfoque deste estudo centra-se no propósito de mudar o rumo do nosso mundo contando com o inestimável poder transformador das crianças, enquanto sujeitos de direitos e cidadãs ativas, no compromisso partilhado e coerentemente vivenciado de construção de uma cultura de paz. São confrontadas abordagens sobre a infância e a(s) criança(s) num mundo violento, globalizado e em constante mudança sendo a Paz convocada como categoria analítica para o campo dos Estudos Sociais da Infância surgindo intimamente associada ao Poder. Assume-se a opção contra-hegemónica de fomentar uma cultura de paz como alternativa à violência estrutural e conjuntural que carateriza a complexidade contemporânea. Redescobre-se a ação educativa como uma possibilidade de resposta à noite coletiva e cultural de hoje. Trata-se de um estudo que se inscreve numa temática indelevelmente relacionada com a infância do presente, que aposta na transformação e, por tal, se alinha com a corrente crítica e o paradigma participativo como base epistemológica para conceber uma Investigação Participativa para a Paz com Crianças. Foram desenvolvidas metodologias de orientação qualitativa e dinâmicas de investigação que consideraram a transformação e a partilha de poder num micro contexto de dinâmica social – uma sala de jardim de infância. Esta tese convoca ainda a dimensão “Paz”, sobretudo a partir do enfoque de “Paz Imperfeita”, como referente global para a definição de 5 categorias de análise: Paz Global; Paz Compromisso; Paz Poder Reticular; Paz (Inov)ação Educativa; Paz(es). A partir dos dados de pesquisa torna-se possível considerar que este estudo se enforma como uma experiência transformadora, autêntica, espontânea, que traz um “algo mais” a outros, uma realidade que valida um propósito comum e a torna num desafio sustentável.

This research is based on a sociological analysis of children’s participation and pacifist agency, within a framework of interdependent relationships and intra and intergenerational mutual recognition. At the same time, it calls for a reflexive critical and mutual approach to the concept of power, based on current discussions in the fields of the Sociology of Childhood and Peace Studies, and constitutes a contribution to the reconstruction of sociological thinking on childhood, which is necessarily transdisciplinary, non-dichotomous and sociologically attentive to the theoretical and paradigmatic reconstruction of sociology. The focus of this study centres on the purpose of changing the course of our world by relying on the invaluable transformative power of children, as subjects of rights and active citizens in the shared and consistently experienced commitment to building a culture of peace. Approaches to childhood and the child(ren) in a violent, globalised and everchanging world are confronted, with Peace being summoned as an analytical category for the field of Social Studies of Childhood, appearing to be closely associated with Power. The counter-hegemonic option of fostering a culture of peace as an alternative to the structural and conjunctural violence that characterizes contemporary complexity is taken up. Educational action is rediscovered as a possible response to today’s collective and cultural night. This study is part of a theme that is indelibly related to the childhood of the present, which is committed to transformation and therefore aligns itself with the critical current and the participatory paradigm as the epistemological basis for conceiving Participatory Research for Peace with Children. Qualitative methodologies and research dynamics were developed that considered the transformation and sharing of power in a micro context of social dynamics – a kindergarten classroom. This thesis also calls on the "Peace" dimension, especially from the "Imperfect Peace" approach, as a global reference for the definition of 5 categories of analysis: Global Peace; Commitment Peace; Peace-Reticular Power; Educational (Innov)ation Peace; Peace(s). Based on the research data, it is possible to consider this study as a transformative, authentic, spontaneous experience that brings "something more" to others, a reality that validates a common purpose and turns it into a sustainable challenge.