O empowerment na mulher vítima de violência doméstica: conceções do profissional como agente na sua promoção

Abstract

Introdução: A violência doméstica tem origem numa complexa interação de costumes e normas sociais, constituindo uma grave violação dos direitos humanos e uma forma de discriminação com impacto nas vítimas e na sociedade. Pode assumir diversas formas, destacando-se a violência física, sexual e psicológica. Neste contexto é crucial estudar a experiência dos profissionais que acompanham as vítimas de violência doméstica no que respeita à promoção do empowerment, de modo a reunir contributos para implementar uma consulta de enfermagem especializada. Neste sentido, os objetivos deste estudo consistiram em: i) conhecer o significado da promoção do empowerment nas mulheres vítimas de violência doméstica, atribuído pelos profissionais que trabalham em instituições de apoio à vítima; e ii) descrever as diferentes dimensões do empowerment que devem ser valorizadas pelos profissionais de saúde. Metodologia: Foi realizado um estudo exploratório, qualitativo e descritivo, com uma amostra não probabilística, por conveniência no qual participaram dez profissionais que trabalhavam em instituições de apoio à vítima. Foram realizadas 10 entrevistas semiestruturadas, seguindo um guião de entrevista elaborado para o efeito. As narrativas dos participantes foram submetidas à análise de conteúdo para identificação de categorias e subcategorias, seguindo as etapas proconizadas por Bardin. Resultados: Os dados permitiram evidenciar duas dimensões temáticas: i) Capacitação da Vítima de Violência Doméstica e ii) Recuperação da Vítima de Violência Doméstica. Na dimensão temática Capacitação da Vítima de Violência Doméstica, emergiram duas categorias: i) a categoria "Significado do empowerment das mulheres vítimas de violência doméstica", que integrou duas subcategorias: “Estimular o poder da vítima” e“Auxiliar a vítima a reconquistar a autonomia”; e ii) a categoria "Estratégias de promoção do empowerment nas mulheres vítimas de violência doméstica" , que agregou três subcategorias: “Apoiar a vítima no reconhecimento e aceitação de perdas”, “Promover a reconstrução da autoestima, confiança e resiliência” e “Oferecer um ambiente seguro e empático”. Por sua vez, na dimensão temática Recuperação da Vítima de Violência Doméstica, emergiram duas categorias: i) a categoria “Perceções e desafios no processo de promoção do empowerment” , que integra duas subcategorias: “Valorizar o estatuto da vítima” e “Facilitar o acesso da vítima à informação” ; e ii) a categoria “Avaliação do impacto sobre o empowerment nas vítimas de violência doméstica” , que agrega duas subcategorias: “Conscientização e educação sobre direitos das vítimas” e “Ajuda legal e jurídica”. Conclusões: A promoção do empowerment na mulher vítima de violência doméstica exige uma abordagem humanista, uma intervenção eficaz e uma avaliação continuada, realizada por uma equipa multidisciplinar. Os enfermeiros têm um papel fundamental nesta equipa, atuando ao nível da prevenção e promoção do empowerment nas vítimas de violência doméstica, de modo a que estas recuperarem a sua segurança, saúde e bem-estar. Neste sentido, sugere-se que as Unidades de Saúde implementem na consulta de enfermagem indicadores específicos para as vítimas de violência doméstica. O Modelo de Adaptação de Calista Roy permite trabalhar em conjunto com a vítima e desenvolver planos de cuidados personalizados, contribuindo para um processo de adaptação eficaz a uma nova fase de vida.

ntroduction: Domestic violence originates from a complex interaction of customs and social norms, constituting a serious violation of human rights and a form of discrimination with impact on both victims and society. It can take various forms, notably physical, sexual, and psychological violence. In this context, it is crucial to study the experience of professionals who accompany victims of domestic violence regarding the promotion of empowerment, in order to gather contributions to implement specialized nursing consultations. Therefore, the objectives of this study consisted of: i) understanding the meaning of empowerment promotion in women victims of domestic violence, as attributed by professionals working in victim support institutions, and ii) describing the different dimensions of empowerment that should be valued by healthcare professionals. Methodology: An exploratory, qualitative, and descriptive study was conducted with a non-probabilistic convenience sample of ten professionals working in victim support institutions, APAV, and Caritas. Ten semi-structured interviews were conducted, following an interview guide prepared for this purpose. The participants' narratives were subjected to content analysis to identify categories and subcategories, following the steps advocated by Bardin. Results: The data allowed the emergence of two thematic dimensions: i) Empowerment of the Domestic Violence Victim, and ii) Recovery of the Domestic Violence Victim. In the thematic dimension of Empowerment of the Domestic Violence Victim, two categories emerged: i) the category "Meaning of empowerment for women victims of domestic violence," which included two subcategories: "Stimulating the victim's power" and "Assisting the victim in regaining autonomy," and ii) the category "Strategies for promoting empowerment in women victims of domestic violence," which encompasses three subcategories: "Supporting the victim in recognizing and accepting losses," "Promoting the rebuilding of self-esteem, confidence, and resilience," and "Providing a safe and empathetic environment." Similarly, in the thematic dimension of Recovery of the Domestic Violence Victim, two categories also emerged: i) the category "Perceptions and challenges in the empowerment promotion process," which includes the two subcategories: "Valuing the victim's status" and "Facilitating the victim's access to information," and ii) the category "Evaluation of the impact on empowerment in victims of domestic violence," which aggregates two subcategories: "Awareness and Education on Victims' Rights" and "Legal and Juridical Aid." Conclusions: Promoting empowerment in women victims of domestic violence requires a humanistic approach, effective intervention, and ongoing evaluation by a multidisciplinary team. Nurses play a crucial role in this team, acting at the prevention and promotion levels of empowerment in victims of domestic violence, in order to recover their safety and health. In this sense, it is suggested that Health Units implement specific indicators for victims of domestic violence in nursing consultations. The Calista Roy Adaptation Model allows working together with the victim and developing personalized care plans, contributing to an effective adaptation process to a new phase of life.