Episódios: da teorização estética em Fernando Pessoa

Abstract

Este trabalho estuda a teorização estética em Fernando Pessoa, propondo, através da leitura e da discussão de textos ensaísticos do autor, alguns inéditos, um mapa das suas ideias estéticas. O seu ideário estético será estudado a partir dos seguintes episódios críticos: a relação entre poesia e música; a fragmentariedade como conceito fundamental na poética do autor; considerações sobre a leitura e a crítica literárias; e reflexões sobre tradução. Na leitura dos textos pessoanos, na detecção do que neles é insistência e do que nessa repetição é diferença, veremos a “organização” que alicerça a produção ensaística do autor. É o conhecimento deste organon imperfeito, como todos em Pessoa, que este estudo visa. Nos vários capítulos, discutir-se-á o olhar pessoano sobre a arte, em particular sobre a poesia. Esse olhar vê muitas vezes a poesia como inscrita num tempo, como sinal do tempo. Pensar a poesia é, para Pessoa, pensar as suas possibilidades e limitações na esfera das potencialidades cognitivas humanas; é reflectir sobre a linguagem como medium para a coisa poética; é pensar-se como autor e como autor que pensa leitores. Esta reflexão implica a consciência de que há heranças que conformam o que se é, e o que se sonha ser depende em muito do modo como estas são olhadas. Por isso, nestes episódios, ao acompanharmos Pessoa a teorizar sobre alguns destes tópicos estéticos, estaremos, muitas vezes, a ler a leitura que o autor faz dessas tradições que o compõem e que determinam o seu tempo. O que seja o “moderno” em arte, especialmente em poesia, é reflexão indissociável, em Pessoa, do pensamento sobre a poesia. A análise desta reflexão fundamenta a releitura de Pessoa aqui apresentada.

This work deals with Fernando Pessoa’s aesthetic theorization, aiming at drawing a map of the poet’s aesthetic ideas, through the reading and the discussion of some of the author’s essays, some unpublished. This will be done taking into account the following critical episodes: the relation between poetry and music; the idea of fragment as a basic concept in the author’s poetics; considerations on literary reading and criticism; and reflections on translation. Through the reading of Pessoa’s texts, by noticing insisting ideas and the differences within that repetition, we will identify the “organization” that founds the author’s essayism. The understanding of this imperfect organon, as imperfect as any other in Pessoa, is the aim of this study. Throughout the several chapters, we will discuss Pessoa’s view on art, and particularly on poetry. Pessoa often looks at poetry as something inscribed in time, as a signal of times. For Pessoa, to think about poetry implies, implies to take into account its possibilities and limitations within the sphere of human cognitive potentialities; it means to reflect upon language as a medium to poetry; it means to think about oneself as an author, and as an author who imagine his readers. This implies the consciousness that there are heritages that shape what we are, and that what we dream to be depends, to a large extent, on the way we face those heritages. Therefore, in these episodes, as we follow Pessoa theorizing about some of these aesthetic topics, we will often be following his reading of the traditions that build him and determine his time. In Pessoa, the reflection on whatever may be “modern” in art, especially in poetry, is inseparable from the very reflection on poetry. The discussion of this reflection grounds the rereading of Pessoa presented here.