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https://hdl.handle.net/1822/8850
Título: | A mudança narrativa no processo terapêutico de re-autoria |
Autor(es): | Santos, Maria Anita Carvalho |
Orientador(es): | Gonçalves, Miguel M. |
Data: | 15-Dez-2008 |
Resumo(s): | De acordo com a terapia narrativa de re-autoria (White & Epston, 1990), a
mudança ocorre pela construção de narrativas identitárias alternativas que decorrem da
identificação e elaboração, na conversação terapêutica, de resultados únicos. Estes
abarcam todos os momentos em que o/a cliente narra algo que é novo ou diferente (e.g.,
pensamentos, projectos, emoções) em relação à narrativa que traz para a terapia,
constituindo-se, assim, como oportunidades para que a mudança ocorra. Uma
investigação anterior (Matos, 2006) permitiu perceber o seu carácter dinâmico e
processual, pelo que se optou pela substituição do termo resultado único pela
designação de Momentos de Inovação (MIs) (cf. M. Gonçalves, Matos, & Santos, no
prelo). Assim, o Sistema de Codificação dos Momentos de Inovação: versão 1 (SCMI;
M. Gonçalves, Matos, & Santos, 2006) permite identificar cinco tipos de MIs: acção,
reflexão, protesto, reconceptualização e novas experiências. A partir dos resultados de
Matos (2006) foi proposto um modelo no qual a mudança parece desenvolver-se a partir
da elaboração da acção, reflexão e protesto na fase iniciais da terapia. Seguidamente,
nas fases intermédia e final, emergem a reconceptualização e as novas experiências.
Estes MIs são predominantes nos casos com bons resultados terapêuticos, promovendo
o desenvolvimento de uma posição de autoria sobre as narrativas identitárias das
mulheres vítimas de violência (M. Gonçalves et al., no prelo).
No primeiro estudo deste trabalho pretendeu-se replicar o estudo de Matos
(2006), analisando os MIs numa amostra de dez casos clínicos de mulheres vítimas de
violência na intimidade. Foi utilizado o SCMI, identificando-se a tipologia dos MIs,
bem como a sua respectiva saliência (tempo envolvido na elaboração dos MIs). O
contraste de dois grupos terapêuticos, um com sucesso e outro com insucesso, permitiu
encontrar diferenças significativas ao nível da saliência, que é mais elevada no grupo
com bons resultados, nomeadamente no que diz respeito aos MIs de reconceptualização
e de novas experiências, apesar da emergência dos MIs ocorrer nos dois grupos. Estes
dados parecem indicar que a emergência dos MIs tem um papel importante na
construção de novas narrativas na conversação terapêutica no grupo com bons
resultados terapêuticos.A partir destes resultados, o segundo trabalho orientou-se para o estudo do
desenvolvimento dos MIs num caso com bons resultados terapêuticos da mesma
amostra, no sentido de perceber a sua congruência em relação ao modelo de construção
da mudança proposto anteriormente (M. Gonçalves et al., no prelo). Após a realização
de análises quantitativas e qualitativas, os dados apontam para uma emergência dos MIs
ao longo do processo de uma forma diferenciada, tal como o modelo prediz. Assim, a
mudança parece desenvolver-se a partir da elaboração nas primeiras sessões dos MIs de
acção e de reflexão, com reduzida saliência. Seguidamente, na fase intermédia emerge o
protesto, que parece ter um papel importante na subsequente emergência da
reconceptualização. Por último, as sessões finais distinguem-se pelos MIs de
reconceptualização e de novas experiências, caracterizando-se pela elevada saliência.
No que diz respeito ao grupo com insucesso terapêutico, os dados indicam que,
nestes casos, surgem sobretudo os MIs de acção, reflexão e protesto. Sugeriu-se, então,
que poderia estar presente um processo de alimentação mútua (mutual in-feeding;
Valsiner, 2002) entre o macro organizador dos significados que a cliente trouxe para a
terapia e os MIs (M. Gonçalves et al., no prelo). Assim, procedeu-se a um estudo
intensivo de um caso com insucesso terapêutico da mesma amostra. Os resultados
mostraram, com efeito, que a reflexão e o protesto são os MIs predominantes,
emergindo desde a fase inicial e mantendo a sua saliência relativamente estável ao
longo do processo. Recorrendo à análise dialéctica (Josephs & Valsiner, 1998; Josephs,
Valsiner, & Surgan, 1999) dos MIs, foi possível perceber de que modo emergem e
como o seu significado é imediatamente contornado, assistindo-se a um movimento de
retorno ao macro organizador dos significados. Este ciclo de alimentação mútua parece
estar na origem da manutenção do sistema de significados da cliente, impedindo o
desenvolvimento dos MIs.
Por último, os MIs, enquanto oportunidades de construção de novos significados
e promotores da mudança terapêutica, são analisados sob uma perspectiva
desenvolvimental. Assim, exploram-se os mecanismos dialécticos que parecem
favorecer a resolução da alimentação mútua e também os processos passíveis de
promover o desenvolvimento dos MIs, nomeadamente, o progressivo aumento da sua
saliência e da sua diversidade nos processos terapêuticos com insucesso. Sugere-se
também que a reconceptualização emerge a partir de um processo de síntese, tornandose
um MI com funções de regulação e mediação do sistema de significados dos clientes,
favorecendo de forma determinante a mudança terapêutica. According to re-authorship narrative therapy (White & Epston, 1990), change occurs by the construction of alternative self narratives from the identification and elaboration, in the therapeutic conversation, of unique outcomes. These are all the moments when the client narrates something new or different from the narrative that he/she brought to therapy (e.g., a project, a feeling). They constitute, therefore, opportunities for change to happen. In a previous research (Matos, 2006), they were found to have a dynamic and process feature, so the term unique outcomes was replaced by Innovative Moments (i-moments) (cf. M. Gonçalves, Matos & Santos, in press). The Innovative Moments Coding System: version1 (IMCS; Sistema de Codificação dos Momentos de Inovação, M. Gonçalves, Matos & Santos, 2006) allows to identify five types of IMS: action, reflection, protest, re-conceptualization and new experiences. Following Matos’ (2006) results, it was proposed a model, in which change seems to develop from the emergence of action, reflection and protest in initial therapeutic phases. Then, in middle and final sessions re-conceptualization emerges, followed by new experiences i-moments. These i-moments characterize good outcome cases, promoting the development of an authorship position over these women self’s narratives (M. Gonçalves, Matos & Santos, in press). In the first study of this work, Matos (2006) research is replicated, analyzing imoments in a sample of ten women victim of intimate violence. The IMCS was used to identify the types of i-moments and also their salience (time of i-moments’ elaboration). The contrast between two therapeutic groups, one with a good outcome and the other with a poor outcome, allowed finding significant differences regarding salience, which was higher in the good outcome group, namely in what concerns re-conceptualization and new experiences i-moments, despite the occurrence of i-moments in both groups. Findings suggested that i-moments play an important role in the construction of new self narratives in good outcome cases. Following these data, in the second study, we intend to study i-moments development in a good outcome therapeutic case from the previous sample and to understand whether they match the change model proposed before (M. Gonçalves et al., in press). Following quantitative and qualitative analyses, data show that i-moments emerge differently throughout the process. So being, change seems to develop from the elaboration in the first sessions of action and reflection i-moments with a reduced salience. Then, in the middle phase protest emerge and seems to play an important role in subsequent re-conceptualization emergence, although with a moderate salience. Final sessions are distinguished by the re-conceptualization and new experiences i-moments, characterized by high salience. These findings were found to be congruent with the change model. Regarding the poor outcome group, data showed that they were characterized by the emergence of mainly action, reflection and protest i-moments. It was proposed that a process of mutual in-feeding (Valsiner, 2002) was presented between the macro organizer of meanings that was brought by the client to the therapy and the i-moments (M. Gonçalves et al., in press). Consequently, aiming to understand this process, we analyze a poor outcome case from the same sample. Results show that the most salient i-moments, in this case, are reflection and protest, emerging ever since the initial sessions, with a relatively stable salience throughout the process. I-moments are studied by a dialectical analysis (Josephs & Valsiner, 1998; Josephs, Valsiner & Surgan, 1999), that allow to find how i-moments emerge and how their meaning is circumvented, allowing a movement of return back to the previous macro organizer. This feedback loop seems to maintain the current system of meanings and restrain the development of the i-moments. I-moments, understood as opportunities of constructing new meanings and promoters of change, are analyzed within the scope of a developmental framework. We explore dialectical mechanisms that seem to promote the resolution of mutual in-feeding and also the processes that can account for the development of i-moments, specifically the increase of their salience and their diversity in processes with good therapeutic outcomes. We also suggest that re-conceptualization emerges from a synthesis process, becoming an i-moment with regulation and mediation functions in the self’s system of meanings, favoring therapeutic change in a determinant way. |
Tipo: | Tese de doutoramento |
Descrição: | Tese de Doutoramento em Psicologia - Área de Conhecimento de Psicologia Clínica |
URI: | https://hdl.handle.net/1822/8850 |
Acesso: | Acesso aberto |
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