Vivência da maternidade e conceções sobre os estilos educativos de mães abusadas sexualmente

Abstract

O abuso é marcante em qualquer faixa etária, etnia, cultura e grupos socioeconómicos, e condiciona a forma de ser e de viver dos sujeitos que o experienciaram. São inúmeras as consequências que este crime provoca, tanto a curto como a longo prazo. Nesta investigação procurou-se perceber a vivência da maternidade das mulheres e a sua conceção sobre a vivência da maternidade em vítimas de abuso sexual, especialmente, os efeitos que essa experiência pode ter no desenvolvimento e educação dos seus filhos. Neste estudo trabalhou-se com uma amostra de 6 mulheres entre os 27 e os 44 anos com filhos/as com idades entre o 1 ano e 24 anos, sendo a sua maioria (4 mulheres) casada. Foi-lhes aplicada uma entrevista, com questões relativas ao abuso sexual, à maternidade e ao modo como estas influenciam o desenvolvimento e educação das crianças, e uma versão curta do Questionário de Estilos Parentais e Dimensões da Parentalidade (PSDQ) de Robinson, Mandleco, Olsen e Hart (2001). A partir destes instrumentos de trabalho concluiu-se que o abuso sexual é um indicador relevante e com grande influência na vivência da maternidade, nomeadamente nas consequências que traz para o desenvolvimento e educação dos filhos. Além disso, constatou-se que as mães, independentemente de terem sido ou não abusadas, tendem a ter uma visão pessimista e descrença no mundo, devido ao receio que os seus filhos e filhas possam passar por esse crime. Esse receio faz com que desconfiem dos próprios familiares, principalmente se este abuso tiver ocorrido a nível intrafamiliar. Observou-se, igualmente, que as mães tendem, de um modo geral, a considerarem-se e considerarem que as mães abusadas têm um estilo autoritativo ao educarem os seus filhos, contudo, as segundas tendem a ser, no entender das participantes, mais rígidas e protetoras do que as primeiras. Este estudo, apesar das suas limitações, tem implicações importantes para a educação das mães, abusadas sexualmente ou não, uma vez que evidenciou a empatia e a sororidade das mulheres não abusadas com as mães abusadas, potenciando a criação de redes de apoio, bem como a formação para a adoção de estilos educativos mais positivos.

Abuse is prevalent in all age, ethnic, cultural and socioeconomic groups, and affects the way of being and living of those who have experienced it. The consequences of this crime are countless, both in the short and long term. This research sought to understand the experience of maternity among women and their conceptions about the experience of maternity among victims of sexual abuse, especially the effects that this experience may have on the development and education of their children. In this study, we worked with a sample of 6 women between 27 and 44 years old with children aged between 1 year and 24 years old, and most of them (4 women) were married. They were interviewed, with questions about sexual abuse, maternity and the way they influence the children's development and education, and a short version of the Parenting Styles and Parenting Dimensions Questionnaire (PSDQ) of Robinson, Mandleco, Olsen and Hart (2001). From these working tools, it was concluded that sexual abuse is a relevant indicator with great influence on the experience of motherhood, namely in the consequences it brings to the development and education of children. Furthermore, it was found that mothers, regardless of having been abused or not, tend to have a pessimistic view and disbelief in the world, due to the fear that their sons and daughters may experience this crime. This fear makes them distrust their own family members, especially if this abuse has occurred at an intrafamilial level. It was also observed that mothers tend, in general, to consider themselves and the abused mothers to have an authoritative style when raising their children, however, the latter tend to be, according to the participants, more rigid and protective than the former. This study, despite its limitations, has important implications for the education of mothers, sexually abused or not, since it evidenced the empathy and sorority of non abused women with abused mothers, enhancing the creation of support networks, as well as training the adoption of more positive educational styles.