Equipes e organizações autogerenciadas: um estudo na área do desenvolvimento de software

Abstract

Este trabalho objetiva estudar as relações sociais em equipes autogerenciadas de desenvolvimento de software. Este trabalho retoma o estudo das equipes autogerenciadas, que foram alvo de diversas investigações nas últimas décadas, porém com algumas particularidades. O contexto abordado é o de equipes autogerenciadas de desenvolvimento de software que utilizam métodos ágeis, o que implica na consideração de particularidades do software, como produto, e do desenvolvimento de software e dos métodos ágeis, como processo. As equipes estão inseridas em um contexto organizacional autogerenciado que impacta o comportamento dos indivíduos, as relações sociais e as dinâmicas e processos de trabalho, afetando desempenho e resultados. As organizações autogerenciadas são um campo rico para o estudo de aspectos como relações não-hierárquicas de poder, hierarquias informais naturalmente dinâmicas, e o papel da interdependência positiva e da confiança nas relações sociais. Constitui também um contexto relativamente pouco explorado, já que a atenção dada pelas Ciências Sociais a esse tema ainda é bastante tímida. Essa oportunidade de investigação é explorada neste trabalho. A investigação utiliza estratégia de estudo de caso. A investigação foi realizada na Mindera, uma organização autogerenciada de desenvolvimento de software, e mais detalhadamente em três projetos dessa organização. A observação participante foi o principal método de coleta de dados, complementado pela análise documental. Os dados empíricos foram analisados frente à literatura para uma melhor compreensão dos eventos observados e o enriquecimento da teoria. Em concreto, foi desenvolvido um modelo analítico representativo do trabalho das equipes ágeis autogerenciadas, utilizado como referência na análise dos dados empíricos. Os resultados alcançados demonstram a aplicabilidade, a adequação e a efetividade do autogerenciamento no contexto estudado. Mesmo que dificuldades e deficiências tenham sido observadas, as vantagens do modelo autogerenciado frente aos modelos mais hierárquicos e burocráticos superam largamente as desvantagens. Embora a transferência desses resultados a outros casos não seja linear, há razões para crer que um modelo semelhante possa ser aplicado com sucesso em outras organizações com contextos próximos ao estudado.

This investigation studies the social relationships in self-managed software development teams. This paper resumes the study of self-managed teams, which targeted at several investigations in the last decades, but with some particularities. The context is that of self-managed software development teams that use agile methods, which implies the consideration of particularities of the software, as a product, and of software development and agile methods, as a process. The teams are involved in a self-managed organizational context that impacts the behaviour of individuals, the social relationships and the dynamics and work processes, affecting performance and results. In this sense, self-managed organizations are a rich field for studying aspects such as non-hierarchical power relations, naturally dynamic informal hierarchies, and the role of positive interdependence and trust in social relationships. It is also a relatively unexplored context, as the attention given by the Social Sciences to this topic is still rather timid. This research opportunity is explored by this work. The research uses a case study strategy. The research was carried out in Mindera, a self managed software development organization, and in more detail in three projects of that organization. Participant observation was the main data collection method, supplemented by documentary analysis. The empirical data were analysed against the literature, which allowed a better understanding of the observed events and the enrichment of the theory. In concrete terms, an analytical model representative of the work of self-managed agile software development teams was developed and used in the analysis of the empirical data. The results achieved demonstrate the applicability, suitability, and effectiveness of self management in the context studied. Even though difficulties and deficiencies were observed, the advantages of the self-managed model compared to more hierarchical and bureaucratic models far outweigh the disadvantages. Although the transferability of these results to other cases is not straightforward, there are reasons to believe that a similar model can be successfully applied in other organizations with contexts similar to the one studied.