(Des)emprego e depressão em fim de carreira profissional: as experiências no mercado de trabalho de pessoas com 50 anos e mais desde a perspectiva crítica da economia política

Abstract

A crise financeira global de 2007/8, a par das políticas neoliberais que foram implementadas na Europa nos anos que se seguiram repercutiram no mercado de trabalho. Um dos grupos particularmente vulneráveis a este tipo de choques é o dos trabalhadores em fim de carreira profissional, considerados excedentários ou pouco desejáveis num contexto de economia globalizada, que privilegia mão de obra barata, flexível, com grande mobilidade e com qualificações nas novas tecnologias. A presente investigação, sustenta-se na crítica da economia política e, com recurso a análise de dados secundários de natureza quantitativa e qualitativa, perscruta a situação dos (des)empregados com 50 e mais anos em diferentes países europeus, nos anos em torno da crise global financeira de 2008. Mostra-se que, apesar de serem cada vez mais os trabalhadores com 50 e mais anos que estão empregados, nos anos pós crise, as taxas de participação estão ainda aquém dos objectivos traçados pela comissão europeia em vários países europeus. Contudo, as directrizes da Comissão Europeia desconsideram trajectórias interrompidas e “atípicas”, bem como as condições estruturais que impedem a manutenção no mercado de trabalho de trabalhadores/as mais velhos. Usando o exemplo português expõem-se alguns dos processos através dos quais se acumulam desvantagens ao longo da vida e que redundam em situações de precariedade em fim de carreira profissional. Mostra-se que aqueles que desenvolveram os seus saberes e competência num contexto histórico, económico e tecnológico diferente do actual, enfrentam dificuldades acrescidas para reintegrar-se no mercado de trabalho. Este trabalho recoloca ainda a relação bem documentada entre (des)emprego e depressão como um ponto de partida para a discussão mais ampla sobre a forma como o actual sistema económico propicia mal-estar psicológico. Factores como o desemprego, más condições de trabalho e precariedade, a expectativa de reforma antecipada, a dependência económica do trabalho pago, viver num país que se alinha na prática das políticas públicas com um regime de Estado de Bem-Estar de inspiração neoliberal e/ou conservadora estão associados a maior risco de experienciar sintomatologia depressiva clinicamente significativa.

The global financial crisis of 2007/8, alongside the neoliberal policies that were implemented in Europe on its aftermath impacted the labour market. One of the most vulnerable population groups to these shocks are workers in late professional career. They are often seen as surplus, unwanted in a globalized economy, that relies on cheap, flexible workers, with high mobility with skills in new information technologies. This piece of research investigates this further using a critical political economy framework and an array of quantitative and qualitative secondary data, furthering the understanding of (un)employed with 50 years old and plus in various European countries in the period around the global financial crisis of 2007/08. It not only describes it but contrasts different welfare state regimes using a temporal approach. This thesis goes on to show despite employment rates having increased among people with 50 years old and plus in the various European countries, labour market participation is far from reaching the European commission objectives, particularly in South and Eastern European countries. Nevertheless, the European commission vision for the extension of working lives disregards that interrupted or atypical trajectories, as well as the structural conditions that deters older workers continuity in the labour market. The Portuguese case illustrates how accumulation of disadvantages over the life course results in precariousness in late career. Older unemployed with low education levels, that those that consolidated their skillset and knowledge in an historical, economic, and technological context different from the current one face further difficulties while trying to maintain themselves in the labour market. Furthermore, the relationship between (un)employment and depression is used as a starting point for a wider discussion on how the current economic system generates psychological illbeing. Factors such unemployment, poor working conditions, and employment precariousness, expecting to retire early, economic dependency of paid work, living in countries with neoliberal or conservative welfare regimes are associated with higher risk of suffering of clinically significant depressive symptoms.