Burnout em Recursos Humanos: o impacto das modalidades de trabalho nos profissionais e empresas

Abstract

Nas últimas décadas, a competitividade empresarial tem levado a uma reorganização do trabalho e à consequente alteração dos horários de trabalho. O burnout, processo de resposta ao stress laboral crónico, pode acarretar consequências negativas a nível individual, familiar, social, profissional e organizacional, traduzindo-se em exaustão emocional, cinismo, baixa eficácia profissional e elevados custos para a organização. Este trabalho pretende compreender o impacto das diferentes modalidades de horário de trabalho no burnout bem como identificar fatores sociodemográficos e profissionais preditores desta síndrome. A dissertação assenta num estudo quantitativo, prospetivo e correlacional. Foi aplicado um questionário, composto por duas partes (sociodemográfica e profissional e Maslach Burnout Inventory – General Survey (MBI-GS)), a trabalhadores de uma empresa multinacional do setor secundário dedicada à produção de equipamentos eletrónicos, num dado momento no tempo. Os dados foram recolhidos para ficheiro MS Excel e posteriormente analisados com recurso ao software IBM SPSS Statistics v. 25. Obteve-se um total de 156 questionários válidos, 101 (65%) do sexo masculino e 55 (35%) do sexo feminino, com uma média de idades de 38±9,24 anos. As faixas etárias mais altas apresentaram maior nível de exaustão emocional (EE) (p < 0,001) e cinismo (CI) (p = 0,002). Verificaram-se diferenças nos índices de burnout entre as diferentes modalidades de trabalho, sendo que trabalhadores com turnos rotativos apresentavam valores significativamente superiores de EE (p < 0,001) e de eficácia profissional (EP) (p = 0,019), comparativamente aos trabalhadores com horários fixos. Os operadores apresentaram um índice de EE significativamente superior comparativamente a todos as outras funções (p < 0,001). Verificou-se ainda que maior literacia está associado a menor nível de EE (p < 0,001) e que colaboradores que trabalham há menos tempo na empresa apresentam níveis mais baixos de EE, CI e EP. Ter filhos parece condicionar mais EE e CI. As modalidades de trabalho e a função desempenhada na empresa influenciam o nível de burnout dos colaboradores. Torna-se crucial a realização de mais estudos no setor secundário de forma a clarificar a influência dos fatores sociodemográficos nesta síndrome, bem como a adoção de medidas organizacionais que evitem o desenvolvimento de burnout nos profissionais.

In recent decades, business competitiveness has led to a reorganization of work and changing schedules. Burnout, a process of response to chronic work stress, can bring negative consequences at an individual, social and organizational level, resulting in emotional exhaustion, cynicism, low professional effectiveness and high costs for the organization. This work intends to understand the impact of different work schedules on burnout and identify sociodemographic and professional factors that predict this syndrome. This dissertation is based on a quantitative, prospective and correlational study. A questionnaire composed of two parts (sociodemographic and professional and Maslach Burnout Inventory – General Survey (MBI-GS)) was applied to employees of a multinational company in the secondary sector dedicated to the production of electronic components, at a given moment in time. Data were collected into a MS Excel file and analyzed using IBM SPSS Statistics v. 25. A total of 156 valid questionnaires were obtained, 101 (65%) were male and 55 (35%) were female. The mean age was 38±9.24 years and older age groups had a higher level of emotional exhaustion (EE) (p < 0.001) and cynicism (CI) (p = 0.002). There were differences in burnout rates between the different types of work, with employees with rotating shifts having significantly higher values of EE (p < 0.001) and professional effectiveness (EP) (p = 0,019), compared to workers with fixed schedule. The operators group presented a significantly higher EE than all other functions (p < 0,001). Greater literacy is associated with a lower level of EE (p < 0,001) and employees who work for less time in the company have lower levels of EE, CI and EP. Having children seems to bring more EE and CI. Work modalities, schedules and function performed in the company influence the level of burnout of employees. It is crucial to carry out more studies in the secondary sector of industry to clarify the effect of sociodemographic factors on this syndrome. The companies must adopt organizational measures that prevent the development of burnout in their employees.