Os cerimoniais público(-privados) e as solenidades da Semana Santa de Braga

Abstract

A morte e a ressurreição de Jesus Cristo constituem-se, porventura, como a narrativa mais divulgada na história da humanidade. Fundamento para realizações artísticas e devaneios devocionais, este relato tornou-se, não apenas a base de uma proposta espiritual, mas numa das mais emotivas manifestações que o Cristianismo proporciona à comunidade humana. Sede de um senhorio eclesiástico que perdurou por quase sete séculos, a cidade de Braga seria o contexto oportuno para o desenvolvimento deste imaginário. Partindo particularmente de iniciativas individuais, como é o paradigmático caso do arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus, a Paixão de Cristo enraizou-se na sociabilidade bracarense, particularmente a partir das corporações inspiradas naquela evocação. Entre as manifestações adquiriu peculiar relevo o conjunto de práticas desenvolvidas fundamentalmente durante o tempo quaresmal e o tríduo pascal. Designado hodiernamente como solenidades da Semana Santa, afirma-se como o momento mais relevante do calendário anual da cidade de Braga. Resultado imediato da inequívoca implantação histórico-social do cristianismo nas sucessivas vigências comunitárias, este fenómeno religioso, hodiernamente também turístico e económico, reflete-se através de um ethos revelador de uma diversidade significativa de vivências onde coexistem, não apenas uma mundivisão judaico-cristã da Humanidade, mas também uma definição muito própria da sociabilidade e do próprio fundamento em que ergue a comunidade. As suas manifestações mais relevantes são as procissões, recriações do cerimonial público cristão, que se revelam como momentos cruciais. No entanto, subsistem outros cerimoniais relevantes, mormente aqueles que se integram no chamado rito bracarense ou as práticas associadas à celebração pascal. Com um percurso temporal que justifica uma abordagem dedicada, estes cerimoniais revelam uma essência que ultrapassa claramente os limites da crença e se situa hoje num âmbito cultural evidente. A recente preocupação com as temáticas relacionadas com o património cultural imaterial, bem como a ausência de estudos relevantes sobre a Semana Santa de Braga, conduziu o nosso processo de racionalização. A leitura atual destes fenómenos sociais é um imperativo do contexto de patrimonialização em que estamos inseridos.

The death and resurrection of Jesus Christ constitute perhaps the most publicized narrative in the history of mankind. Grounding for artistic achievements and devotional reverie, this account has become not only the basis of a spiritual proposal, but one of the most emotive manifestations that Christianity provides to the human community. Seat of an ecclesiastical landlord that lasted for almost seven centuries, the city of Braga would be the opportune context for the development of this imaginary one. Starting in particular from individual initiatives, such as the paradigmatic case of Archbishop D. Frei Agostinho de Jesus, the Passion of Christ was rooted in sociability from Braga, particularly from the corporations inspired by that evocation. Among the manifestations acquired particular importance the set of practices developed fundamentally during the Lenten time and the Easter triduum. Allegedly designated as Holy Week's solemnities, it is affirmed as the most relevant moment in the annual calendar of the city of Braga. The immediate result of the unequivocal social-historical implantation of Christianity in the successive communitarian periods, this religious phenomenon, now also tourist and economic, is reflected through a revealing ethos of a significant diversity of experiences where not only a Judeo-Christian worldliness, but also a very specific definition of sociability and the very foundation on which it builds the community. Its most relevant manifestations are the processions, recreations of the Christian public ceremonial, which reveal themselves as crucial moments. However, other relevant ceremonies subsist, especially those that are part of the so-called rite from Braga or the practices associated with the paschal celebration. With a time course that justifies a dedicated approach, these ceremonials reveal an essence that clearly goes beyond the limits of belief and is today within a clear cultural scope. The recent preoccupation with the themes related to intangible cultural heritage, as well as the lack of relevant studies on Holy Week in Braga, led to our rationalization process. The current reading of these social phenomena is an imperative of the context of patrimonialization in which we are inserted.