Utilize este identificador para referenciar este registo:
https://hdl.handle.net/1822/59730
Título: | Ócio e ambiente: subjetividades e práticas na iniciativa comunitária Aveiro em Transição |
Autor(es): | Vargas, Tatiana Lopes de |
Orientador(es): | Carvalho, Anabela Martins, José Clerton de Oliveira |
Palavras-chave: | Ócio Ambiente Subjetividade Práticas de resistência Performance social e política Aveiro em Transição Leisure experience Environment Subjectivity Practices of resistance Social and political performance Aveiro em Transição |
Data: | 3-Dez-2018 |
Resumo(s): | Nesta investigação propomos-nos a discutir a posição central ocupada pelo trabalho na vida
cotidiana (Baptista, 2016; Gorz, 2013; Lafargue, 2011) e trazer à luz a ideia do ócio como um
direito humano e prática cultural (Cuenca Cabeza, 1999, 2000) a ser também valorizada no
contexto dos desafios e das crises contemporâneas. Tendo como principal base epistemológica
os Estudos Culturais, assumimos o posicionamento de que o ócio pode ser uma prática de
resistência aos padrões sugeridos pelos discursos hegemônicos e pelas estruturas sociais, no
âmbito do sistema capitalista. Nesse sentido, Gorz (2013) propõe pensar a conciliação entre as
atividades remuneradas e as atividades não remuneradas, entre o consumo e a autonomia,
entre outros aspectos que venham contribuir com uma vida mais livre e ambientalmente
equilibrada. A subjetividade, base em que acreditamos estar sustentada a experiência de ócio, é
entendida como o cerne da experiência e da produção de conhecimento e do autoconhecimento
(Amatuzzi, 2006; Larossa, 2002). Observando o contexto português sob o prisma das
instabilidades sociais e culturais trazidas pela crise socioeconômica que se iniciou na década
passada foram feitas anotações exploratórias em torno de iniciativas sociais voltadas para as
questões ambientais, sociais e culturais, com o objetivo de perceber as suas aspirações a um
modo de vida mais sustentável e solidário. Por essa via, chegou-se à iniciativa local Aveiro em
Transição (AeT). O Movimento de Transição (MT) surge como reação às questões ambientais,
nomeadamente o pico do petróleo e as consequências das alterações climáticas (Hopkins &
Lipman, 2009; Mason & Whitehead, 2011), mas está ligado também a questões sociais,
econômicas e culturais. Propõe o desenvolvimento de comunidades mais resilientes, no sentido
de serem resistentes e mais autônomas em relação ao uso de combustíveis fósseis (Hopkins,
2011). Nessa linha, a AeT foca-se na construção de comunidades mais resilientes, solidárias,
sustentáveis e felizes. Esta investigação tem o objetivo de analisar o ócio enquanto prática de
resistência e oportunidade de performance social e política através da participação na iniciativa
comunitária Aveiro em Transição. Mais especificamente, procuramos: i) discutir a relação entre
sistema capitalista, trabalho, ócio e ambiente a partir do quadro de transformações culturais
contemporâneas; ii) contribuir para a discussão teórica sobre uma concepção contemporânea de
ócio que aborde a relação entre ócio, ambiente e subjetividade; iii) examinar as principais
práticas desenvolvidas pela iniciativa Aveiro em Transição e o modo como incorporam relações
entre ócio e ambiente; iv) identificar aspectos fundamentais para o desenvolvimento da
performance social e política através da participação na Aveiro em Transição; e v) perceber o ócio enquanto prática de resistência a partir da subjetividade implicada nos relatos sobre as
experiências dos dinamizadores da Aveiro em Transição.
Desse modo, configurámos uma investigação qualitativa, em que o campo de estudo invocou um
viés fenomenológico. Realizámos uma abordagem etnográfica que combinou observação,
observação participante e entrevistas semi-estruturadas como técnicas de recolha de dados. No
âmbito do estudo empírico, realizámos uma análise temática a partir do discurso do MT, uma
análise interpretativa sobre a experiência etnográfica e, por fim, analisámos as entrevistas com
os principais dinamizadores da AeT com base na análise interpretativa fenomenológica (Sanders,
1982; Smith, 2007; Smith & Osborn, 1999).
A partir desta investigação, é possível perceber que o cenário de transformações culturais
contemporâneas referentes ao trabalho, tempo, lazer e ócio propicia o desenvolvimento de
práticas de resistência. Discussões públicas em torno de práticas cotidianas que contrariam
modos de vida acelerados e carentes de reflexão e produção de experiências e conhecimentos,
constituem as formas atuais de resistências que se aproximam do ócio enquanto prática cultural.
O exercício de reflexão, desenvolvido a partir da tensão entre o modo de vida pretendido pelos
dinamizadores da AeT e o contexto socioambiental atual, pode constituir um exemplo de como o
processo de subjetivação situa o sujeito num lugar de desenvolvimento de saberes e de vivência
livre do tempo. É neste ponto que se acredita que o sujeito possa viver as suas experiências de
ócio. This thesis discusses the central position occupied by work in daily life (Baptista, 2016; Gorz, 2013; Lafargue, 2011) and looks at the leisure experience as a human right and a cultural practice (Cuenca Cabeza, 1999, 2000) to be valued in the context of contemporary crises and challenges. Having Cultural Studies as its prime epistemological foundation, the thesis argues that leisure experiences may be a practice of resistance to patterns promoted by hegemonic discourses and social structures within capitalism. In this regard, Gorz (2013) proposes to explore the reconciliation of remunerated and unpaid activities, of consumption and autonomy, among other aspects that can contribute to a freer and more environmentally balanced life. We view subjectivity as the basis of the experience of leisure and as key to the production of (self- )knowledge (Amatuzzi, 2006; Larossa, 2002). Observing the Portuguese context through the lens of the social and cultural instabilities brought about by the social and economic crises that began in the last decade, an exploratory analysis of social initiatives regarding environmental, social and cultural issues was carried out with the goal of understanding aspirations to a more sustainable and solidary mode of life. In doing so, we have arrived at the international Transition Movement and the local initiative Aveiro em Transição (AeT or Aveiro in Transition). The Transition Movement emerged as a reaction to environmental issues, namely peak oil and the consequences of climate change (Hopkins & Lipman, 2009; Mason & Whitehead, 2011), but is also concerned with social, economic and cultural issues. It aims for the development of resilient communities, in the sense of resistance and autonomy in relation to the use of fossil fuels (Hopkins, 2011). In this line, AeT focuses on the construction of more resilient, solidary, sustainable and happier communities. This research seeks to understand the leisure experience as a practice of resistance and as an opportunity of social and political performance through participation in the initiative Aveiro em Transição. More specifically, we aim to: i) discuss the relation between capitalism, work, leisure experience and environment against the background of contemporary social change; ii) contribute to theoretical discussions about the contemporary conception of leisure experience; iii) examine the main practices carried out by AeT and how they embody relations between leisure experience and environment; iv) identify the principal aspects for the development of social and political performance through AeT participation; v) understand the leisure experience as a practice of resistance based on the subjectivity implied in personal reports about the experiences of AeT facilitators. To fulfill these goals, we have designed a qualitative research programme inspired by a phenomenological outlook. Ethnographic fieldwork was combined with observation, participant observation and semi-structured interviews as means of data collection. We then conducted a thematical analysis of the discourse of the Transition Movement, an interpretive analysis of ethnographic field notes and a phenomenological interpretative analysis of interviews with AeT facilitators (Sanders, 1982; Smith, 2007; Smith & Osborn, 1999). The thesis suggests that the context of contemporary cultural change pertaining to work, time, leisure and leisure experience allow for the development of practices of resistance. Public debates on day-to-day practices that go against accelerated ways of life lacking reflection, the production of knowledge and insightful experiences are current forms of resistance that approximate the leisure experience to a form of cultural practice. The exercise of reflection based on the tension between the way of life aspired by the AeT facilitators ad the contemporary social and economic context is an example of how the process of subjectification places the subject in a location conducive to the development of knowledge and time-free living. It is from that place that the subject may live her/his leisure experience. |
Tipo: | Tese de doutoramento |
Descrição: | Tese de Doutoramento em Estudos Culturais |
URI: | https://hdl.handle.net/1822/59730 |
Acesso: | Acesso aberto |
Aparece nas coleções: | CECS - Teses de doutoramento / PhD theses |
Ficheiros deste registo:
Ficheiro | Descrição | Tamanho | Formato | |
---|---|---|---|---|
Tatiana Lopes de Vargas.pdf | 4,78 MB | Adobe PDF | Ver/Abrir |