O contrato psicológico e o empenhamento organizacional dos enfermeiros no contexto das unidades de saúde familiares

Abstract

O novo modelo organizativo dos Cuidados de Saúde Primários, as USF, trouxe aos enfermeiros um novo desafio. Ao associarem-se a este modelo aceitaram novas obrigações, partindo do pressuposto que a organização também assumiria uma série de obrigações para com eles. Na literatura, o contrato psicológico emerge como fator explicativo da relação entre o indivíduo e a organização, sugere ainda a perceção de quebra ou violação como influenciadora no empenhamento organizacional. Estudam-se os enfermeiros de duas unidades de saúde familiar em diferentes níveis de desenvolvimento organizacional, com o objetivo de caraterizar o contrato psicológico detido e o (in)cumprimento percebido pelos colaboradores das obrigações da organização para com eles e, nesta sequência, o grau de empenhamento organizacional. A população estudada é constituída por enfermeiros de uma unidade de saúde familiar em modelo A e de uma unidade em Modelo B. O presente estudo possui um cariz exploratório e descritivo, como estratégia de pesquisa optou-se pelo estudo de caso com uma abordagem qualitativa. A estratégia principal de recolha de dados foi a entrevista semiestruturada. Os resultados obtidos indicam que a configuração do contrato psicológico nos enfermeiros se associa ao contexto organizativo das USF. Foi identificada a ocorrência de violação do contrato psicológico em todos os entrevistados independentemente do modelo em que se inserem. As principais reações a perceção de violação do contrato psicológico nos enfermeiros em modelo A resultou em emoções negativas, desânimo e frustração. Relativamente aos comportamentos gerados pela perceção de violação do CP dos entrevistados em modelo A estes afirmam realizar o seu trabalho com dedicação, apesar de alguma desmotivação, quando questionados sobre fatores que os mantinham ligados a organização, identificaram o empenhamento afetivo e o empenhamento instrumental. As reações face a perceção de violação do contrato psicológico nos enfermeiros da USF em modelo B resultou em emoções negativas, desmotivação e desânimo. Os enfermeiros em Modelo B, mais do que os enfermeiros no Modelo A, experienciaram um sentimento forte de violação do CP, descrevem respostas como diminuição do bemestar individual e comportamentos de retirada organizacional. Quando questionados sobre fatores que os mantinham ligados a organização, identificaram laços que se relacionam com os três tipos de vinculação organizacional: fatores ligados ao empenhamento afetivo, normativo e instrumental.

The new organizational model of the primary health care, the family health units, brought to the nurses a new challenge. By associating to this model they accepted new obligations, based on the assumption that the organization would also assume a new series of obligations. In literature, the psychological contract emerges as a factor which explains the relationship between the individual and the organization, it also suggests the perception of breaking or violation as influential on the organizational commitment. Are study nurses of two units of familiar health in different levels of organizational development, with the purpose of characterizing the psychological contract detained and the non-fulfilment gotten by the contributors of the obligations of the organization to them and, in this sequence, the degree of organizational commitment. The population studied is constituted by nurses of a family health unit in model A and of a unit in model B. The present study has an exploratory and descriptive character, as a strategy of research was chosen a case study with a qualitative approach. The principal strategy of data collection was a half structured interview. The results indicate that the configuration of the psychological contract in nurses is associated to the organizational context of the family health units. It was identified the occurrence of violation of the psychological contract in all the interviewees regardless of the model they fit. The main reactions to perceived violation of the psychological contract in nurses in model A resulted in negative emotions, discouragement and frustration. Regarding the behaviours generated by the perceived violation of the CP of the respondents in model A, they affirm to carry out their work with dedication, despite some lack of motivation, when asked about factors that kept them connected to the organization, identified the affective commitment and the instrumental commitment. The reactions to the perception of violation of the psychological contract in the USF model B nurses resulted in negative emotions, demotivation and discouragement. Model B nurses, more than model a nurses, experienced a strong sense of violation of the CP, describe responses such as decreased individual well-being and organizational withdrawal behaviours. When questioned about factors that kept them connected to the organization, they identified links that relate to the three types of organizational linkage: factors related to affective, normative and instrumental commitment.