O lar animal: construir para sobreviver

Abstract

‘Arquitectura’ e ‘animal’. À primeira vista, dois termos aparentemente inconjugáveis e estranhamente combinados, considerando a nossa vontade em especificar a arquitectura como um feito humano – uma conquista que nos distingue dos restantes animais. Contudo, com este trabalho, tenciono desmistificar essa assunção e demonstrar que os animais são competentes construtores e, na verdade, arquitectos que, curiosamente, constroem pela mesma razão basilar que levou o Homem a construir: garantir a sua sobrevivência. A sobrevivência é, nesta tese, tida como a função primária da arquitectura. Desde lares a armadilhas e displays, os animais são capazes de construir complexas estruturas, dominando diferentes técnicas e usufruindo e combinando todo o tipo de materiais, respeitando as suas propriedades e restrições. Parte deste trabalho é organizar e sumarizar os construtores, a sua distribuição taxonómica e o seu habitat, os seus propósitos e os métodos que optam por aplicar. Considerando as construções animais, demonstrou-se crucial justificar a sua definição como arquitectura e, por essa mesma razão, coloco-as cara-a-cara com proposições humanas que caracterizam a doutrina, focando-me, principalmente, na que é percepcionada como uma das principais bases da teoria arquitectónica: a tríade vitruviana. Através de uma leitura disciplinar proponho qualificar essas estruturas como arquitectura, quebrando, consequentemente, a barreira antropomórfica invisível que separa as nossas conquistas construtivas das do restante reino animal. Para complementar a pesquisa, investigo em detalhe a que é considerada, não só, a função mais comumente encontrada na arquitectura humana e animal, como também, a que representa uma das necessidades mais básicas : o lar. De uma vasta panóplia de lares, que variam de uma mera membrana-cápsula até uma mega-estrutura de diferentes câmaras, proponho um estudo conceptual e físico de acordo com as diferentes tipologias reconhecidas: lar individual, unifamiliar, plurifamiliar e comunitário.

'Architecture' and 'animal'. At first glance, two terms seemingly incoherent and strangely combined, considering our willingness to specify architecture as a human trait - an achievement that sets us apart from other animals. However, with this work, I intend to demystify this assumption and demonstrate that animals are competent builders and, in fact, architects who, curiously enough, build for the same basic reason as humans: in order to survive. Survival is taken, throughout this thesis, as the primary task of architecture. From homes to traps and displays, animals are capable of building complex structures, dominating different techniques and combining all sorts of materials, respecting their peculiar restrictions. Part of this work is to organize and summarize the builders, their taxonomic distribution and habitat, their purposes and the methods they choose to apply. Considering animal constructions, it seemed crucial to justify its definition as an architecture and, for this reason, I bring them face-to-face with human propositions that characterize the doctrine, focusing, mainly, on the perceived as one of the main basis for architectural theory: the vitruvian triade. Through a disciplinary approach I intend to qualify those structures as architecture, thereby breaking, consequently, the invisible anthropomorphic barrier that separates our building achievements from those of the remaining animal kingdom. To complement the research, I investigate in detail what is considered, not only, the most common function in human and animal architecture, as well as one of the most basic needs: home. From a vast panoply of homes, ranging from a mere membrane-capsule to a mega-structure of different chambers, I propose a conceptual and physical study according to the different recognized typologies – individual, single and multi-family, and community homes.