O Banco Nacional Ultramarino em Moçambique: representação e modernidade

Abstract

O Banco Nacional Ultramarino (BNU), instituição privada fundada em 1864, foi o único banco português que obteve autorização do Estado para a emissão de notas nas antigas colónias/províncias ultramarinas portuguesas. Em Moçambique foi, em simultâneo, o banco emissor, o tesoureiro do governo e o principal banco comercial do território. Durante as décadas de 50, 60 e 70 do século XX a administração do BNU orientou a seleção dos arquitetos escolhidos para desenhar os empreendimentos do banco em Moçambique de modo a privilegiar a seleção de técnicos estabelecidos na província e a distribuição das encomendas por gabinetes distintos. Com esses critérios garantiu a participação dos principais atores da moderna cultura arquitetónica moçambicana no projeto das agências construídas nos principais núcleos urbanos da província. A linguagem destes edifícios, filiada na arquitetura do Movimento Moderno internacional, contém a modernidade e monumentalidade essencial à representação da principal instituição bancária do território; a sua estruturação espacial reflete os modelos informais de hierarquização social e de segregação racial correntes na antiga província; a sua organização funcional contempla atividades que, resolvendo necessidades habitacionais e cumprindo o programa assistencial do Serviço Social do Banco, os carateriza como microcosmos programáticos: complexos multifuncionais ou condensadores sociais involuntários.