Como construir e utilizar de forma sustentável habitação cooperativa em Portugal a custos controlados

Abstract

O parque habitacional cooperativo representa, em Portugal, uma parcela significativa do património edificado de primeira habitação, dirigido para as famílias portuguesas da classe de rendimentos médios e médio-baixos, que recorrem às cooperativas de habitação para resolverem o seu problema de aquisição de casa própria. Após décadas de promoção de habitação, confinada a regras muito restritivas quanto à limitação de custos, nos últimos anos a habitação cooperativa iniciou um trabalho de implementação de regras de qualidade, de modo a tornar-se, em simultâneo, económica, social e ambientalmente sustentável, mantendo a sua qualidade de habitação a custos controlados. De modo a demonstrar que a habitação cooperativa sustentável, por oposição à habitação cooperativa tradicional, é viável e proporciona benefícios económicos, ambientais e sociais apreciáveis, pretende-se quantificar e qualificar esses ganhos e produzir um conjunto de regras orientadoras para a construção e utilização de futuros empreendimentos cooperativos sustentáveis. Partindo do significado de “Desenvolvimento Sustentável”, este trabalho de investigação identificou e analisou, com base na literatura consultada, os vários princípios de construção sustentável e a sua aplicabilidade na habitação cooperativa, nas vertentes financeira, social e ambiental. Foi reunida uma amostra de quatro empreendimentos cooperativos, três de construção sustentável e um de construção tradicional, totalizando 131 fogos, na qual foi possível caracterizar o desempenho energético previsto para as habitações em estudo. Complementarmente, através de um processo de monitorização de consumos energéticos, de água potável e do conforto ambiental dos mesmos fogos, foi possível caracterizar o seu real desempenho energético e ambiental. As tarefas desenvolvidas, através da dupla análise comparativa de construção sustentável / construção tradicional e de desempenho previsto / desempenho real, conduziram, na vertente financeira, à obtenção de valores anuais máximos e mínimos de poupança em recursos, por tipologia, da construção sustentável face à construção tradicional. Nas vertentes ambiental e social, os resultados dos inquéritos individuais permitiram a análise das melhorias nessas áreas, causadas pela implementação da construção sustentável. A partir dos dados obtidos, foi possível elaborar dois manuais, com orientações básicas para a construção e utilização da habitação cooperativa sustentável, de modo a contribuir para o aumento da qualidade de vida dos seus moradores e para a diminuição do impacto ambiental do património cooperativo construído.

In Portugal, cooperative housing represents a significant portion of the permanent housing building estate, which is directed to Portuguese families with low and medium-low incomes that see housing cooperatives as a way to solve their problem of purchasing a house of their own. After decades of housing developments, confined to very restrictive rules regarding costs limitation, cooperative housing has, in recent years, started to work on implementing quality rules, so as to become economically, socially and environmentally sustainable, while maintaining its housing quality at a controlled cost. So as to verify if sustainable cooperative housing, as opposed to traditional cooperative housing, is practicable and brings actual economic, environmental and social benefits, the goal of this study is to quantify and qualify such benefits and produce a set of guiding rules for the construction and use of future sustainable cooperative enterprises. Having as basis the meaning of “Sustainable Development”, this research work has identified and analysed, based on the consulted literature, several main sustainable construction principles and their applicability in cooperative housing, in the financial, social and environmental sectors. A sample of four cooperative enterprises was collected, three of sustainable construction and one of traditional construction, with a total of 131 dwellings, in which it was possible to characterise the estimated energetic performance for each dwelling under study. Additionally, it was possible to characterise their real energetic and environmental performance, through a process of energy and domestic water consumption monitoring and through individual inquiries to the users. The tasks developed through the double analysis of sustainable construction/traditional construction and estimated performance/real performance have led, in the financial sector, to the achievement of maximum and minimum annual values of resource savings in sustainable construction as opposed to traditional construction, by typology. In the environmental and social sectors, the results of the individual enquiries allowed the analysis of the improvements in those areas, which were achieved through the implementation of sustainable construction. From the gathered data, it was possible to produce two manuals with basic guidelines for the construction and use of sustainable cooperative housing, in order to contribute to the improvement of the quality of life of its residents and to the decrease of the environmental impact of the built cooperative patrimony. The results produced with this work show that it is possible to build and maintain sustainable cooperative housing regarding specific legislation of maximum costs applicable to this sector.