Gravidez na adolescência : percepção das jovens grávidas institucionalizadas sobre o seu contexto familiar e a educação sexual em meio escolar

Abstract

A gravidez na adolescência é uma problemática que continua a inquietar, pais, professores, técnicos de saúde e os próprios jovens. Desejada ou não, provoca um conjunto de impasses de âmbito pessoal, familiar e social. A sexualidade na adolescência continua a ser encarada pela família, pela escola e pela sociedade de uma forma negligente, desvalorizando esta fase da vida repleta de descobertas e emoções. Este estudo de carácter descritivo, com abordagem metodológica mista, tem como objectivo analisar a associação entre a gravidez precoce e o contexto familiar e o uso da educação sexual em meio escolar. Com o intuito de se pensar novas formas de assistência que sejam capazes de minimizar os prejuízos que uma gestação pode trazer à vida das adolescentes, principalmente quando não é desejada. Estudou-se uma população de 30 jovens grávidas em contexto institucional e um grupo de 60 professores de uma escola do norte do país, pioneira num projecto nesta área. Para tal, utilizou-se um questionário para as grávidas adolescentes e o outro para os professores. Para além disso realizaram-se entrevistas semi-estruturadas a sete jovens, bem como à equipa técnica da instituição a que essas jovens pertencem. Analisaram-se as percepções das jovens sobre o seu ambiente familiar, a sua gravidez e sobre a educação sexual. No caso dos professores, recolheu-se informação acerca dos seus conhecimentos e atitudes sobre a sexualidade dos adolescentes, da educação sexual e de como lidam com a gravidez na adolescência em contexto escolar. Com base nos dados obtidos da Escala do Ambiente Familiar, as grávidas adolescentes de idade superior a 18 anos, comparativamente às mais jovens, revelam maior valor de coerência em todos os itens: coesão, expressividade, conflito, independência, organização e controlo familiar. Aquele grupo etário manifesta ainda que a gravidez precoce terá sido um momento errado para ter um bebé, pela falta de condições económicas e sociais e revela ainda sentimentos de preocupação em relação ao bebé como consequência da falta de bem-estar físico e psicológico da própria mãe adolescente. Os resultados sobre os professores inquiridos sugerem que a escola estará preparada para dar resposta a esta temática, havendo no entanto diferenças de género a registar. Fez-se ainda uma análise cruzada entre as percepções dos professores e as das adolescentes sobre a educação sexual em meio escolar, havendo também diferenças significativas interessantes. Este estudo sugere que família estruturada será sinónimo de menor incidência de gravidez na adolescência; um maior conhecimento acerca da sexualidade contribuirá para uma mais elevada idade na gravidez; e uma escola com formação adequada pode contribuir para a redução do número de gravidezes adolescentes. Torna-se necessário criar escolas apelativas aos jovens para que estes assimilem a informação transmitida, nomeadamente sobre sexualidade, a fim de diminuir o índice de gravidezes na adolescência. Para além disso, a educação sexual deve ser iniciada na família e continuada na escola. Jovens informados, menores riscos correm.

Pregnancy in adolescence is an issue that has always worried and still worries not only parents, teachers and health technicians but also the youths themselves. Wanted or not, pregnancy in adolescence brings a real turmoil at the personal, family and social level. Sexuality in adolescence is still faced by family, school and society in a negligent way underestimating this period of life full of new discoveries and emotions. This study of descriptive nature with mixed methodological approach, aims at analyzing the connection between early pregnancy, the family context and the way sexual education is dealt at school. The purpose of this study is to find new forms of assistance that are able to minimize the damages a pregnancy may bring to adolescent girls, especially when they do not want and are not prepared for it. This study focused on a group of 30 pregnant girls in institutional context and a group of 60 teachers from a school in the north of Portugal, pioneer in a project on this area. Two different questionnaires were hold, one to the young pregnant girls and the other to the teachers. Besides the questionnaires, semi-structured interviews were made to seven girls, as well as to the technical team of the institution these girls belong to. The perceptions of these girls about their family environment, their pregnancy and the sexual education were dully analyzed. In what concerns the teachers, we have picked up information about their knowledge and attitudes in relation to adolescents’ sexuality, sexual education and how they deal with pregnancy in adolescence in the school context. Based on the data obtained from the Family Environment Scale, the pregnant adolescents older than 18 years, when compared with the younger girls, show a greater coherence in every item: cohesion, expressivity, conflict, independence, organization and family control. That age group also states that precocious pregnancy had been the wrong moment to have a child, as they lack economical and social conditions and they also show concerns about the baby as a consequence of not being well prepared to be a mother both at the physical and psychological level. The results obtained from the teachers’ questionnaires show that school is prepared to give an answer to this issue; however, there are some gender differences to be taken into consideration. A crossed analysis between the teachers and adolescents’ perceptions about sexual education at school was carried out, having also found out remarkable and interesting differences. This research suggests that a structured family will mean a minor risk of pregnancy in adolescence; a better knowledge about sexuality will contribute to pregnancy in an older age and a school with an adequate preparation can contribute to the reduction of pregnancy among adolescents. It becomes necessary to create appealing schools so that the youths might integrate the information transmitted, mainly about sexuality, to reduce the number of pregnancies in adolescence. Furthermore, sexual education must start in the family and be continued at school. The more informed the youths are the less risk they run.