A gestão intermédia na escola pública angolana: institucionalismo e poder

Abstract

A elaboração do desenho desta investigação sobre a gestão intermédia em três escolas públicas do ensino primário e do I ciclo do ensino secundário geral em Angola, bem como os processos que deram lugar à realização deste estudo, assentaram num quadro ontológico relativista (Guba & Lincoln, 1988, Guba, 1990). Este estudo assenta numa base epistemológica de feição subjetiva (exigindo uma certa exegese com recurso a modelos analítico/interpretativos das realidades organizacionais escolares) e uma metodologia de feição, predominantemente, qualitativa, elegendo-se o estudo de caso (múltiplo) como método/estratégia de pesquisa com a triangulação de técnicas de recolha de dados (pesquisa bibliográfica, análise documental, entrevistas, inquérito por questionário e observação direta). No quadro de uma análise multifocada, neste estudo, contextualizamos a figura do coordenador de turno (CT) ao nível dos modelos decretados (analisando a legislação anterior e em vigor), ao nível dos modelos recriados (analisando os documentos elaborados ao nível interno) mas também e, sobretudo, ao nível do contexto das práticas/plano da ação. Quanto às lentes teóricas, procuramos analisar os fenómenos relacionados à figura dos CT com base nas lentes dos modelos burocrático, político, neoinstitucional e anárquico. Ao nível das categorias de análise da escola como organização, privilegiamos, no nosso estudo, uma abordagem micro/meso focando a nossa atenção na figura do CT, mas não ignorando a voz dos outros atores que com ele interagem dentro da escola (professores, alunos, diretores e subdiretores). Os resultados deste estudo, que teve como objetivos gerais a caraterização dos CT enquanto gestores intermédios e as razões da sua existência em número de três dentro das estruturas organizacionais das escolas que, por razões de salvaguarda do seu anonimato, designamos de estrela, lua e sol, sugerem, que no contexto das práticas/plano da ação, os CT são uma espécie de gestores intermédios administrativos com uma dupla face (uma instrumental e uma institucional) que, no exercício das suas funções, mobilizam certas bases de poder.

The design of this research on middle management in three public primary schools and the first cycle of general secondary education in Angola, as well as the processes that led to this study, were based on a relativist ontological framework (Guba & Lincoln, 1988, Guba, 1990). This study is based on a subjective epistemological foundation (requiring a certain exegesis using analytical/interpretive models of school organisational realities) and a predominantly qualitative methodology, choosing the (multiple) case study as the research method/strategy with the triangulation of data collection techniques (bibliographical research, documentary analysis, interviews, questionnaire survey and direct observation). Within the framework of a multi-focused analysis, in this study we contextualise the figure of the shift coordinator (CT) at the level of decreed models (analysing previous and current legislation), at the level of recreated models (analysing documents drawn up internally) but also, and above all, at the level of the context of practices/action plans. As for the theoretical lenses, we sought to analise the phenomena related to the figure of the CT based on the lenses of the bureaucratic, political, neoinstitutional and anarchic models. In terms of the categories of analysis of the school as an organisation, in our study we favoured a micro/meso approach, focusing our attention on the figure of the CT, yet not ignoring the voice of the other actors who interact with him within the school (teachers, students, principals and assistant principals). The results of this study, which had the general objectives of characterising the CT as middle managers and the reasons for their existence in numbers of three within the organisational structures of the schools, which for reasons of safeguarding their anonymity, we named as star, moon and sun, suggest that in the context of the practices/action plan, the CT are a kind of administrative middle managers with a double face (one instrumental and one institutional), who in the exercise of their functions, mobilise certain bases of power.