A marginalidade no tempo presente ou a cidade como arquivo de segregação: os bairros sociais de Braga entre 2000 e 2022

Abstract

Nas causalidades e repercussões, o espaço urbano continua e é, cada vez mais, epicentro de marginalidades. Sorvedouro de recursos económicos, políticos e sociais, é na incapacidade de uma gestão equidistante entre a proficuidade do território e a provisão e capacitação suficiente aos seus cidadãos, que se geram espaços de diferença, de desequilíbrio e de demarcação social. Solo de repartição política e social, ordenada e segmentada, a elaboração e leitura do mapa da cidade assume uma crónica de domínio e de relegação onde, indissociáveis, a regra e a marginalidade embrenham as suas expressões na discussão permanente sobre as fronteiras que as separam e sobre aquilo que as define. Reflexo da evolução, a habitação sempre esteve comprometida entre a necessidade basilar e as condições para dela usufruir condignamente. Na sua alçada, os bairros sociais sobressaem como logótipo de habitação social ou dos apoios sociais à habitação, materializados como apoio público no acesso a condições condignas de habitabilidade. Remetidos a áreas periférica e arquitetonicamente delimitadas, distantes do circuito funcional da cidade, das suas aspirações e do progresso social, os seus moradores passam a constar de categorias, recorrentemente deparados com barreiras mentais que insistem na criminalização da pobreza. Apoiado na contribuição conceptual de autores como Marc Augé, Howard Becker, Loïc Wacquant e Sandro Mezzadra, este trabalho explora a marginalidade como campo de problematização nos planos conceptual, relacional e espacial, aplicadas a um território – os Bairros Sociais de Braga –, relacionando a imputação social negativa e o capital económico, social e cultural das populações que os habitam. Tendo como substrato cronológico a História do Tempo Presente, são utilizadas diferentes metodologias de investigação que buscam as marginalidades por entre os contextos sociopolíticos da génese e evolução dos bairros sociais, na caracterização sociodemográfica dos seus moradores e nos ecos da comunicação social, assim como evidenciam o percurso identitário e de memória individual e coletiva das suas comunidades aliados às suas representações culturais, através do recurso à história oral, investigando vivências quotidianas, estratégias e projetos inclusivos em que estão envolvidos e alguns dos desafios e dificuldades que enfrentam diariamente dentro e entre o seu bairro e a cidade onde se inserem.

In terms of causalities and repercussions, urban space continues to be, and is, increasingly, the epicenter of marginalities. A drain on economic, political and social resources, it is in the inability to manage equidistantly between the prosperity of the territory and the provision and sufficient training for its citizens, that spaces of difference, imbalance and social demarcation are generated. Ground of political and social distribution, ordered and segmented, the elaboration and reading of the city map assumes a chronicle of dominance and relegation where, inseparable, the rule and marginality embed their expressions in the permanent discussion about the borders that separate them and about what defines them. A reflection of evolution, housing has always been compromised between the basic need and the conditions to enjoy it with dignity. Within its scope, social neighborhoods stand out as a logo for social housing or social support for housing, materialized as public support for access to decent living conditions. Relocated to peripheral and architecturally delimited areas, far from the city's functional circuit, its aspirations and social progress, its residents fall into categories, recurrently faced with mental barriers that insist on the criminalization of poverty. Supported by the conceptual contribution of authors such as Marc Augé, Howard Becker, Loïc Wacquant and Sandro Mezzadra, this work explores marginality as a field of problematization at conceptual, relational and spatial levels, applied to a territory – the Social Neighborhoods of Braga –, relating negative social imputation and the economic, social and cultural capital of the populations that inhabit them. Having the History of the Present Time as a chronological substrate, different research methodologies are used that seek marginalities within the sociopolitical contexts of the genesis and evolution of social neighborhoods, in the sociodemographic characterization of their residents and in the echoes of social communication, as well as highlighting the identity path and individual and collective memory of their communities combined with their cultural representations, through the use of oral history, investigating daily experiences, strategies and inclusive projects in which they are involved and some of the challenges and difficulties they face daily within and among their neighborhood and the city where they are located.