Do grão ao pixel: desafios da transição para o digital nos processos e na estética da imagem cinematográfica

Abstract

A migração entre sistemas de produção de imagens cinematográficas — de um processo analógico, com base na película, à digitalização de todas as etapas — acarretou mudanças amplas. Nesta assunção, este trabalho reflete, a um nível primordial, sobre as consequências estéticas dessa migração e a sua eventual manifestação em um novo estilo da imagem cinematográfica. Para tanto, examina a transição do ponto de vista da tecnologia, das movimentações estilísticas através da história na arte iconográfica e da própria imagem cinematográfica, bem como na fotografia cinematográfica digital. A imagem é aqui entendida como o resultado de processos de perceção e de interpretação humanas, pelo que também importa analisar se os recentes recursos de captação e de intervenção digital na imagem impactam na sua produção e no seu consumo. Já a um nível secundário, procuramos olhar a afetação dos desafios da transição para o digital nos profissionais da fotografia cinematográfica, nos seus modi operandi a solo e em equipa, e nos modelos de produção e de atividade profissional. Como tal, esta transição releva o alcance do seu impacto: se de uma revolução nos processos ou se de um compromisso que acomoda e preserva alguns dos legados visuais e modos de trabalho tradicionais. A estrutura metodológica cruzou a análise das fontes bibliográficas da História da Arte e da Cinematografia com a análise de entrevistas a profissionais da fotografia cinematográfica — entrevistas publicadas por outros autores e entrevistas realizadas no âmbito desta tese. Em conclusão geral, da transição de sistemas adveio uma estética da imagem cinematográfica própria do digital, resultado de novas ferramentas de intervenção e de veiculação, de adaptações por parte dos profissionais às características inerentes aos novos sistemas, que parece apontar para novos estilos, com reflexos estilísticos que acabam por influenciar as imagens contemporâneas e os seus modos de leitura.

The migration between film imaging systems—from an analogue, film-based process to the digitization of all stages—has brought about far-reaching changes. In this assumption, this study reflects, at a primordial level, on the aesthetic consequences of this migration and its eventual manifestation in a new style of the cinematographic image. To do so, it examines the transition from the point of view of technology, of stylistic movements through history in iconographic art and the cinematographic image itself, as well as in digital cinematography. Image is understood here as the result of human perception and interpretation processes, which is why it is also important to analyze whether recent resources for capturing and digitally intervening in the image have an impact on its production and consumption. At a secondary level, we seek to look at the impact of the challenges of the transition to digital on cinematography professionals, their solo and team modi operandi, and at the models of production and professional activity. As such, this transition reveals the scope of its impact: whether it is a revolution in processes or a compromise that accommodates and preserves some of the visual legacies and traditional ways of working. The methodological structure crossed the analysis of bibliographical sources of History of Art and Cinematography with the analysis of interviews with cinematographers — interviews published by other authors and interviews carried out within the scope of this thesis. In general conclusion, the transition of systems gave rise to an aesthetic of the cinematographic image typical of the digital world, the result of new intervention and broadcasting tools, of adaptations by professionals to the inherent characteristics of the new systems, which seems to point to new styles, with stylistic reflections that end up influencing contemporary images and their reading modes.