Casamentos arranjados e trajectos (in)coerentes ("Estrelas Funestas")

Abstract

Em 1862, Camilo Castelo Branco publica Estrelas Funestas. A novela retoma a questão central da ficção camiliana: os casamentos forçados por conveniências sócio-familiares, a despeito da afinidade electiva. A particularidade desta novela reside no facto de a acção abarcar duas gerações, o que põe em destaque a reprodução social dos matrimónios arranjados deste modo: outrora vítima de um arranjo matrimonial, causador de enorme infelicidade, o pai, em nome da tradição (que recobre genealogia e património), volve-se. afinal, num patriarca autoritário e desapiedado em relação às pretensões sentimentais da filha (e deste modo contribui decisivamente para a reprodução das simetrias sociais). O percurso da mãe não é menos surpreendente: pouco romântica, até boçal e rústica à partida, anos mais tarde, no papel de mãe defende inabalavelmente as pretensões sentimentais da filha. Procuraremos reflectir sobre estes trajectos psicológicos e neles detectar, apesar da (aparente) descontinuidade, uma certa coerência.

In 1862, Carnilo Castelo Branco publishes Estrelas Funestas. This novel retakes one of central subjects of Camilo's fiction: the disregard for choice in the marriages of convenience. One particularity of this novel is that its action encompasses two generations and stresses the facet of the social reproduction of all marriages under these circumstances: the father, a victim himself to this sort of arrangement, becomes a pitiless authoritarian patriarch in relation to the sentimental pretensions of his daughter, contributing, in this manner, to the reproduction of social symmetries. The role of the mother is no less surprising. At first scarcely romantic, even ordinary and rustic, be-comes a unwavering champion of the sentimental aspirations of her daughter. It is our objective to delve into the psychological aspects of the characters and to detect coherence, despite what seems an apparent discontinuity, in their behaviors.