Necessidades não satisfeitas em saúde e estratégias de financiamento dos custos de saúde das famílias em Portugal

Abstract

O estudo tem como objetivo uma análise sobre as Necessidades de Saúde não satisfeitas e as estratégias de financiamento dos gastos de saúde diretos pelas famílias em Portugal. Apesar de o Serviço Nacional de Saúde oferecer cobertura universal e uma vasta gama de benefícios, a literatura sugere que persistem dificuldades e desigualdades no acesso e no financiamento dos gastos de saúde em Portugal. Dois indicadores fundamentais para avaliar as dificuldades no acesso e as desigualdades em saúde são as necessidades não satisfeitas da população e a proporção dos gastos diretos em saúde. Dado o elevado custo de oportunidade dos gastos de saúde, importa também conhecer como é que as famílias lidam com os gastos diretos. O estudo contou com a divulgação de um inquérito a adultos residentes em Portugal, respondido eletronicamente, ao qual foram obtidas 284 respostas. Todos os questionários foram considerados válidos. Trata-se de um estudo exploratório, sendo privilegiada a análise descritiva dos resultados. Os resultados estão em linha com estudos anteriores que sugerem uma elevada percentagem de necessidades não satisfeitas em Portugal, em particular no que concerne a consultas de especialidade e cuidados primários. As necessidades não satisfeitas estão em particular associadas a elevados tempos de espera e às dificuldades de suportar os custos. Indivíduos de agregados com maiores dificuldades financeiras e com prevalência de doença reportam mais frequentemente necessidades não satisfeitas. As conclusões estão em linha com as de estudos anteriores. O estudo indica os gastos em saúde, têm um peso elevado no seu rendimento. Os resultados indicam ainda que os indivíduos recorrem principalmente a poupanças para custear as despesas. O recurso ao crédito bancário é pouco usado. Uma importante limitação é que a amostra do estudo é pequena e não probabilística. O método de administração dos questionários resultou numa amostra que diverge das características médias da população portuguesa.

The study aims to analyse the unmet health needs of Portuguese, and their strategies for financing direct health expenditures. Although the National Health Service offers universal coverage and a wide range of benefits, the literature suggests that difficulties and inequalities persist in accessing and financing health expenditures in Portugal. Two fundamental indicators to assess difficulties in access and inequalities in health are the population's unmet needs and the proportion of out-of pocket health expenditures. Given the high opportunity cost of health care expenditures, it is also important to know how families manage to pay the out-of-pocket health expenditures. The study included the disclosure of a survey to adults residing in Portugal, answered electronically, to which 284 responses were obtained. All surveys were considered valid. This is an exploratory study, with a descriptive analysis of the results. The results are in line with previous studies that suggest a high percentage of unmet needs in Portugal, in particular regarding specialty consultations and primary care. Unmet needs are main due to high waiting times and difficulties in bearing costs. Individuals from households with greater financial difficulties and with prevalence of disease more often report unmet needs. The conclusions are in line with those of previous studies. The study indicates that health spending has a high weight in their income. The results also indicate that individuals mainly use savings to cover expenses. The use of bank credit is little used. A main limitation is that the study sample is small and non-probabilistic. The questionnaire administration method resulted in a sample that deviates from the average characteristics of the Portuguese population.