As paletas na Arte Rupestre do Noroeste de Portugal. Inventário, estudo e interpretação

Abstract

A presente dissertação tem como objetivo principal contribuir para o aumento do conhecimento das representações de “paletas” na arte rupestre do noroeste de Portugal, através de uma catalogação, individualização tipológica e colocação de hipóteses funcionais e cronológicas. Para chegar a este objetivo foi necessária uma conciliação de trabalho inicial de gabinete (que visou pesquisa e recolha bibliográfica e cartográfica), de trabalho de campo (inventariação e estudo dos sítios) e de trabalho avançado de gabinete, em que se redigiu a dissertação e se trataram os dados recolhidos através de determinados programas e premissas. Foram identificados 12 afloramentos com paletas gravadas, alguns inéditos, desde já, denunciando a raridade destas representações. Através da morfologia das pás e dos cabos das paletas foram reconhecidos 4 grupos tipológicos, com subgrupos caraterizados pelas especificidades dos seus cabos. Através de observação técnica e cronologia relativa, observa-se posterioridade destes motivos em relação à Arte Atlântica Clássica e à Arte Esquemática Antiga, sendo, portanto, de um período posterior ao Neolítico-Calcolítico. Um estreitamento cronológico foi realizado através de paralelos com objetos de madeira e metal, definindo-se uma cronologia entre a Idade do Bronze e o Ferro Antigo (cerca do séc. IV a.C.). Uma análise das orientações geográficas das paletas sugere celebrações de eventos solares ligados com os solstícios e equinócios, para dois grupos tipológicos (1 e 2). Outro grupo tipológico (o nº 3), aparentemente mais recente do que os anteriores, poderá relacionar-se com a importância da estrela polar e da orientação das populações no espaço. Nalguns casos, a distribuição das paletas no afloramento indicia que representam depósitos. Numa perspetiva geral, os afloramentos com diversidade de paletas, considerados lugares coletivos, terão sido locais ativos simbolicamente, durante algum tempo, hipótese que se apoia na gravação de tipos diferentes de paletas, na reorientação e sobreposição de algumas, bem como em técnicas distintas, indiciando que estes afloramentos teriam sido usados para a realização de ritos cíclicos.

The main goal of the present dissertation is to contribute to the increase of the knowledge of "palette" representations in the rock art of the northwestern Portugal, which is still incipient, through cataloguing, typological individualization and placement of functional and chronological hypotheses. In order to reach this goal, it was necessary to conciliate initial office work (which aimed at bibliographic and cartographic data collection), field work (inventory and study of the sites) and advanced office work, in which the dissertation was written and the collected data was treated through certain programs and assumptions. Twelve outcrops with engraved palettes were identified, some unpublished, denouncing the rarity of these representations. Through the morphology of the blades and handles of the palettes 4 typological groups were recognized, with subgroups characterized by the specificities of their handles. Through technical observation and relative chronology, a posteriority of these motifs in relation to Classical Atlantic Art and to Ancient Schematic Art is observed, being therefore from a period posterior to the Neolithic-Chalcolithic. A chronological narrowing was carried out through parallels with wooden and metal objects, defining a chronology between the Bronze Age and Early Iron Age (around the 4th century BC). An analysis of the palettes' geographical orientations suggests celebrations of solar events connected with the solstices and equinoxes, for two typological groups (1 and 2). Another typological group (No. 3), apparently more recent than the previous ones, could be related to the importance of the polar star and the orientation of populations in space. In some cases, the distribution of the palettes on the outcrop indicates that they represent deposits. From a general perspective, the outcrops with a diversity of palettes, considered as collective places, would have been symbolically active sites for some time. This hypothesis is supported by the engraving of different types of palettes, the reorientation and superimposition of some, as well as distinct techniques, indicating that these outcrops would have been used to perform cyclic rites.