A cobertura jornalística em situação pandémica: análise da mediatização da COVID-19 do principal noticiário do operador de serviço público em Portugal (Telejornal)

Abstract

A saúde é um tema que sempre despertou o interesse dos média, o que ficou mais evidente ainda com a pandemia do SARS-Cov2. Motivados pela função de comunicar e de promover a saúde, e pela necessidade de encontrar respostas para uma situação tão nova e desafiadora para a ciência, para os próprios média, para as populações e para os governos e autoridades de saúde, investigamos que tipo de cobertura mediática promoveu o operador de serviço público de televisão, a RTP (Rádio e Televisão de Portugal), em Portugal, no seu principal programa de informação, o Telejornal, durante a pandemia. Este noticiário é emitido todos os dias, às 20 horas, em direto, com duração de cerca de 60 minutos, no canal RTP 1 e, em simultâneo, nos canais RTP Internacional e RTP África, bem como no site institucional, através da RTP Play. O conteúdo digital do Telejornal é arquivado desde 2016, o que viabilizou a realização da nossa recolha de dados. Neste estudo, escolhemos três períodos distintos nos sucessivos estados de emergência: entre 18 de março e 2 de maio de 2020, a primeira fase do confinamento severo em Portugal; entre 9 de novembro e 23 de dezembro de 2020, outro período crítico da doença; e entre 15 de janeiro e 26 de fevereiro de 2021, a segunda fase do confinamento severo. No total, somaram-se 134 aberturas emitidas e 302 fontes de informação consultadas. É importante sublinhar que todas as aberturas, independente de serem, ou não, sobre a Covid-19, foram estudadas. A análise dos dados recolhidos evidencia que: o agendamento da Covid-19 mudou a sazonalidade das notícias de saúde do Telejornal; os homens foram a voz prevalecente nas notícias; a “Área geográfica” mais representada foi o país como um todo, justificada pelo facto de que a maior parte das fontes serem oficiais e, portanto, atuarem num contexto nacional governamental; as fontes oficiais foram as mais valorizadas, mesmo numa altura em que todos esperavam ouvir uma resposta da ciência; as fontes especializadas não tiveram maior visibilidade no topo dos alinhamentos; os cidadãos continuam a ter pouco espaço em lugar de destaque Telejornal; e, refira-se também que, os recursos visuais foram usados para aproximar, ou explicar, determinado tema, com o intuito promover a literacia em saúde.

Health is a topic that has always aroused the media’s interest, which became even more evident with the SARS-Cov2 pandemic. Motivated by the function of communicating and promoting health, and by the need to find answers to such a new and challenging situation for science, for the media themselves, for populations, and governments and health authorities, we investigated what type of media coverage was promoted by the public television service operator, RTP (Portuguese Radio and Television), in Portugal, in its main information program, Telejornal, during the pandemic. This is broadcast every day, at 8 pm, live, with a duration of about 60 minutes, on the RTP 1 channel and, simultaneously, on the RTP Internacional and RTP África channels, as well as on the institutional website, through RTP Play. The digital content of Telejornal has been archived since 2016, which made it possible to carry out our data collection. In this study, we chose three distinct periods in successive states of emergency: between March 18 and May 2, 2020, the first phase of severe lockdown in Portugal; between November 9 and December 23, 2020, another critical illness period; and between January 15 and February 26, 2021, the second phase of the lockdown. In the total analysis period, there were 134 openings issued and 302 sources of information consulted. It is important to note that all openings, regardless of whether or not they are about Covid-19, have been studied. The analysis of the collected data shows that: the Covid-19 schedule changed the seasonality of the health news on Telejornal; men were the prevailing voice in the news; the most represented geographic area was the National one, justified by the fact that most of the sources are of the official type and, therefore, act in a national governmental context; official sources were the most valued, even at a time when everyone expected to hear an answer from science; specialized sources did not have greater visibility; citizens continue to have little space in the routine of TV news; visual resources were used to approach, or explain, a specific topic, addressed to promote health literacy.