Ler “Interlúdio 3. A Paralaxe em Arquitectura” de Slavoj Žižek: Para uma crítica ideológica da arquitetura

Abstract

Na atual sociedade, a ideologia tende a ser vista como uma arma política do passado, que deixou de existir a partir do momento em que os ideais neoliberais capitalistas e a economia de mercado se afirmaram como sistema dominante a nível mundial. Contudo, o filósofo, psicanalista e crítico político Slavoj Žižek argumenta precisamente o contrário: a ideologia está em funcionamento mais do que nunca, apenas se alteraram as suas formas de atuação. A presente dissertação consiste num exercício de leitura de um só texto: o ensaio de Slavoj Žižek “Interlúdio 3. A Paralaxe em Arquitectura”, publicado em Viver no Fim dos Tempos. O ensaio foi dividido em excertos com unidade temática, sendo cada um deles detalhadamente analisado nos seus conteúdos e nas suas referências. Visando a construção de uma posição pessoal relativamente a uma prática profissional que se deseja aliada à reflexão crítica, esta dissertação constitui, para mim, um passo importante para o reconhecimento da dimensão ideológica da arquitetura. Na base do ensaio de Žižek reside um apelo à responsabilidade ética e social da arquitetura. Em suma, o filósofo promove a aplicação da visão em paralaxe - um método filosófico de inibição de estruturas ideológicas – à arquitetura pós-moderna e contemporânea. A discussão baseia-se no conceito do “inconsciente político” do pensador Fredric Jameson, que reflete sobre a dimensão política presente nos atos estéticos de uma sociedade. Através da obra As Políticas do Envelope do arquiteto Zaera-Polo, a discussão acaba por centrar-se no potencial político dos envelopes dos edifícios e, mais concretamente, nos espaços intersticiais originados pelo envelope duplo dos centros de arte e performance. No final, a dissertação procura responder (de acordo com a especificidade que lhe atribui o autor) à questão colocada por Žižek: “Como é que a arquitetura pode constituir uma solução para os antagonismos presentes na sociedade contemporânea?”.

In today's society, ideology tends to be seen as a political weapon of the past, which ceased to exist the moment neoliberal capitalist ideals and the market economy asserted themselves as the dominant system worldwide. However, philosopher, psychoanalyst, and political critic Slavoj Žižek argues quite the opposite: ideology is in operation more than ever, only the ways in which it operates have changed. The present dissertation consists of an exercise in reading a single text: Slavoj Žižek's essay "Interlude 3. The Parallax in Architecture," published in Living at the End of Time. The essay has been divided into excerpts with thematic unity, each of which is analyzed in detail in its contents and references. Aiming at the formation of a personal position regarding a professional practice that one wishes to be allied to critical reflection, this dissertation constitutes, for me, an important step towards the recognition of the ideological dimension of architecture. At the basis of Žižek's essay lies an appeal to the ethical and social responsibility of architecture. In short, the philosopher promotes the application of parallax view - a philosophical method of inhibiting ideological structures - to postmodern and contemporary architecture. The discussion is based on the concept of the "political unconscious" by thinker Fredric Jameson, who reflects on the political dimension present in a society's aesthetic acts. Through the work The Politics of the Envelope by architect Zaera- Polo, the discussion ultimately focuses on the political potential of building’s envelopes and, more specifically, on the interstitial spaces originated by the double envelope of art and performance centers. In the end, the dissertation seeks to answer (according to the specificity that the author attributes to it) the question posed by Žižek: "How can architecture constitute a solution to the antagonisms present in contemporary society?".