O impacto do trabalho nas relações de amizade dos académicos

Abstract

O impacto do trabalho nas relações de amizade dos académicos é um tema que ainda não foi muito explorado, de facto muitos estudos sobre o impacto do trabalho na esfera familiar, no entanto, as relações de amizade não têm sido tão estudadas. Vivemos uma realidade em que as relações interpessoais assumem cada vez mais importância, em que o equilíbrio entre trabalho e vida extralaboral é essencial, no entanto, a carreira continua a sobrepor-se muitas vezes à vida extralaboral. Portanto, o objetivo principal deste estudo foi analisar as perceções de um conjunto de académicos quanto ao impacto e potenciais conflitos entre o trabalho e as suas relações sociais e interpessoais. Investigou-se como as mudanças na profissão académica, das últimas décadas, têm impactado o equilíbrio entre o trabalho e a vida extralaboral, particularmente na componente das relações de amizade. Em termos metodológicos optou-se por seguir uma estratégia de pesquisa de natureza interpretativa. Para a recolha de dados utilizou-se a entrevista em profundidade, tendo sido realizadas trinta e seis entrevistas a académicos de ambos os sexos. A análise das entrevistas foi feita com recurso a uma análise de conteúdo temática. Os resultados das entrevistas mostram que os académicos enfrentam várias dificuldades na manutenção de relações de amizade devido a fatores relacionados com o trabalho académico, como sejam a sobrecarga de trabalho e/ou a rivalidade e competição entre pares ao nível da promoção na carreira. Todavia, os resultados também revelam a grande importância das relações de amizade para o bem-estar geral dos académicos, e o facto de estas serem importantes fontes de apoio emocional e profissional. O estudo reforça a importância do equilíbrio entre o trabalho e as relações extralaborais, neste caso, as relações interpessoais de amizade. Assiste-se no fundo à necessidade que os académicos têm em abstrair-se do trabalho para poderem usufruir das suas vidas em pleno e terem tempo livre para dedicar aos amigos e também a atividades de lazer. Por último, são realizadas algumas sugestões para a prática das organizações académicas, ao nível da gestão de recursos humanos, e apresentam-se as limitações do estudo e as pistas futuras de investigação na área.

The impact of academic work on friendship is a topic hardly explored; in fact, many of the academic studies have focused on the impact of academic work on the family sphere, neglecting the impact of work demands on interpersonal and friendship relationships. We live in a world in which interpersonal relationships are increasingly important, and the balance between work and extra-work life is essential. However, career and work demands remain as a priority, with individuals’ non-work life left in second place. Therefore, the main objective of this study was to analyze the perceptions of a group of academics regarding the impact and potential conflicts between work and their social and interpersonal relationships. We looked at how the changes in the academic profession, of the last decades, have affected the balance between work and non-work life, particularly in the component of friendship relations. In methodological terms, it was decided to follow an interpretive research strategy. For data collection, an in-depth interview was used, with thirty-six interviews conducted with academics of both sexes. The analysis of the interviews was carried out using a thematic content analysis. The results of the interviews show that academics face several difficulties in maintaining friendship relationships at work due to factors related to work requirements, such as work overload and/ or rivalry and competition among peers in terms of career promotion. However, the results also reveal the great importance of friendship for the general well-being of this group of academics, and the fact that friendship is perceived as an important source of emotional and professional support. The study reinforces the importance of a balance between work and non-work relationships, in this case, academics’ friendship relationships. The study findings show that there is a need for academics to isolate themselves from work as a way to fully enjoy their lives and have free time to dedicate to friends and leisure activities. Finally, some suggestions are made for the practice of academic organizations, in terms of human resource management, and the limitations of the study and future research suggestions are presented.