Cuidados relacionais e comportamentos interativos de crianças em acolhimento residencial: estudo longitudinal

Abstract

As instituições de acolhimento residencial têm sido consideradas pela investigação um meio de privação, por haver evidências de que não fornecem à criança as condições necessárias para satisfazer as necessidades básicas de proteção, afeto e exploração do ambiente, podendo conduzir a um impacto muito negativo no seu desenvolvimento. As variáveis que influenciam a qualidade dos comportamentos interativos das crianças no contexto institucional têm merecido uma menor atenção na literatura existente. De forma a contribuir para um conhecimento mais aprofundado deste tema, este estudo examinou as contribuições do comportamento interativo do prestador de cuidados, das experiências pré-institucionais adversas da criança e do seu estatuto desenvolvimental na qualidade dos comportamentos interativos da criança. Assim, um grupo de crianças, entre os 0 e os 21 meses, em acolhimento residencial foi avaliado no momento de admissão na instituição e reavaliado 9 meses depois com os respetivos cuidadores. O desenvolvimento mental da criança foi avaliado nos dois momentos do estudo, foram avaliados os comportamentos da criança e do cuidador numa tarefa estruturada e ainda foram identificadas as experiências pré-institucionais adversas. Relativamente às crianças, os resultados evidenciaram associações significativas positivas entre o humor positivo e desenvolvimento da linguagem e motor; entre o foco atencional face a objetos e o desenvolvimento da linguagem e motor; e ainda associações significativas negativas entre o nível de atividade e o desenvolvimento cognitivo. Estes resultados permitiram um melhor conhecimento da relação entre os comportamentos interativos das crianças, evidenciando o papel dos mesmos no seu desenvolvimento mental.

Residential care institutions for children and young people have been considered by research as a place where basic needs as protection, affection and exploration of the environment are not totally satisfy. This fact may lead to a very negative impact on normal development of these children. It is also known that the variables that influence the quality of children's interactive behaviors in institutional context have deserved less attention in the current literature. In order to contribute to a deeper understanding of this topic, this study examined the contributions of the caregiver's interactive behavior, the child's adverse pre-institutional experiences and their developmental status in the quality of the child's interactive behaviors. Thus, a group of children, between 0 and 21 months, in residential care was evaluated at the time of admission to the institution and re-evaluated 9 months later with their caregivers. Child's developmental status was evaluated at two moments, child's and the caregiver's behavior were evaluated in a structured task, and adverse pre-institutional experiences of each child were also identified. Concerning children, the results showed significant positive associations between positive mood and language and motor development; between attentional focus on objects and language and motor development; and significant negative associations were found between activity level and cognitive development of the children. These results helped to better understand the relationship between the interactive behaviors of the children, demonstrating their role in their development status.