Al Berto: auto-representação e silêncio Tópicos dramáticos em Lunário, Horto de Incêndio e nas imagens teatralizadas do autor

Abstract

O objectivo desta dissertação é definir os traços idênticos de dramatismo - no sentido de representação e encenação - que percorrem a obra poética, ficcional e imagética de Al Berto (1948 – 1997). Para isso partimos de duas obras do autor português, as mais significativas no género – Horto de Incêndio, com primeira edição de 1997 e Lunário de 1988. Horto de Incêndio é o último livro de poesia do autor sendo um livro de profunda maturidade e depuração - exclusivamente autobiográfico como Lunário o é - em que se questiona a dor “dos dias sem ninguém”, a solidão, e “a dor de todas as ruas vazias”, a doença. Lunário, por seu lado, é um livro de adolescência que representa uma juventude sem futuro perspectivado evadida em „paraísos artificiais‟. Unindo estas obras está o conceito de autobiografia, autorepresentação corporal e num sentido mais estrito o conceito de persona, i.e., uma máscara que o artista usa para se definir socialmente e para se autodefinir também. No seguimento destes dois conceitos introduzo as fotografias tiradas a Al Berto em que há uma auto–encenação profunda funcionando também elas como autobiografia e paratextos. Nesta parte relativa às fotografias procedo a um exercício de écfrase, ou seja, através das fotos que selecciono – que são nove, retiradas de capas de livros e outros locais – procuro descodificar e elucidar o teor de cada uma em particular procurando sempre esse signo dramático, de pathos, que dá coesão às imagens. Unindo, em suma, os textos (Horto de Incêndio e Lunário) e as imagens, está, pois, o conceito de persona (no sentido de alienação, do duplo e da máscara) e os conceitos de alteridade, de autobiografia, de encenação – tudo mesclado por um desejo de exibição cénica mas também por um já cansado desejo de silêncio.

The objective of this paper is to define the identical aspects of drama – in the sense of representation and staging – which can be found throughout the poetic, fictional and visual work of Al Berto (1948-1997). Therefore we depart from two works of this Portuguese author, which are the most significant within the genre: Horto de Incêndio edited for the first time in 1997 and Lunário from 1988. Horto de Incêndio is the last poetry book published by this author and shows a profound maturity and perfection. In this exclusively autobiographic work – just as is Lunário – the author questions the grief “dos dias sem ninguém”, the loneliness and “a dor de todas as ruas vazias”, the disease. Lunário, for its part, is a adolescence book which represents a youth without future form which he escapes to artificial paradises. By relating these works we can find the concepts of autobiography, self representation and in a stricter sense the concept of persona, in other words, a mask the author uses to define him socially as well as to define himself as an individual. Following these two concepts I will introduce the photographs taken from Al Berto in which exists a profound autocharacterisation that works as well as autobiography and paratext. In this part relating to the photographs I will proceed to an exercise of ekfrasis, in other words, through the photos I select – nine photos taken from book covers and other places – I will try to decode and clarify the meaning of any of them in particular by seeking always the dramatic sign, of pathos, which gives coherence to the images. In short, the texts (Horto de Incêndio & Lunário) and the images are related to the concepts of persona (in the sense of alienation, double and mask), differentness, autobiography and characterization; and all this mixed by the desire of exhibition but also by a weary desire for silence.