Teoria da agenda aplicada às eleições presidenciais brasileiras de 2018: como o Facebook agendou a mídia tradicional

Abstract

Esta investigação trabalha com a evolução histórica dos meios de comunicação, passa pelas bases teóricas desta área e aprofunda sua reflexão sobre a Teoria da Agenda (Agenda Setting), bem como suas evoluções. Constata as atualizações da Teoria do Gatekeeping e reflete sobre o papel do jornalismo na manutenção da qualidade do debate público, bem como fortalecimento de sistemas democráticos. Realizamos, portanto, uma interseção entre estudos jornalísticos e a comunicação política em que buscamos investigar como a realização do jornalismo atual é afetada pelas atividades das redes sociais. Para isso, partimos do pressuposto de que os jornais impressos ainda estão a afinar novos e antigos valores-notícia a fim de equilibrar as demandas levantadas por cidadãos nas redes sociais, pautas apresentadas nas redações, conteúdos que fomentem pautas sociais e denúncias típicas do jornalismo investigativo. O corpus deste trabalho foi dividido em duas partes: na primeira, desenvolvemos um levantamento teórico extenso que nos permitiu olhar para nosso objeto de pesquisa de maneira profunda e crítica; na segunda, apresentamos nossa metodologia e aplicamos as teorias descritas a fim de analisar empiricamente nosso objeto. Dessa forma utilizamos o Facebook como representante das redes sociais e comparamos as postagens mais compartilhadas no período eleitoral brasileiro de 2018 (16/09 a 06/09/2018) com aquilo que foi publicado nos jornais impressos O Globo e Folha de S. Paulo. Primeiramente, realizamos uma análise quantitativa do relatório de dados do Facebook fornecido pelo Monitor do Debate Político na Internet e depois realizamos uma análise qualitativa descritiva, aliada à análise de conteúdo, das correlações entre assuntos do Facebook e publicações dos jornais localizadas, ação que denominamos eco das redes. Indagamos a eventual contaminação do trabalho jornalístico pela dinâmica do Facebook. Os resultados mostram, por exemplo, a mídia comprometida em acompanhar os debates em alta no Facebook, sendo que a Folha de S. Paulo esteve sempre mais atualizada do que O Globo em volume e diversidade de pautas. Também verificamos que a construção semântica das matérias coincidentes com assuntos do Facebook dedicou mais espaço a valores contra os candidatos do que para inserir novas informações ao debate público, comportando-se, portanto, mais de maneira reativa ao que vem das redes do que proativa. Detectamos também certa fragilidade no trabalho jornalístico no combate das fake news. Por fim, destacamos nas notas conclusivas inconsistências detectadas na realização do jornalismo atual, deixamos apontamentos sobre pesquisas que relacionem redes sociais e jornalismo e sugestões de aperfeiçoamento da comunicação pública a fim de combater a contaminação do debate público por ações de desinformação.

This research works with the historical evolution of media, goes through the theoretical basis of this area and deepens its reflection on the Agenda Setting theory, as well as its evolutions. It finds the updates of gatekeeping theory and reflects on the role of journalism in maintaining the quality of public debate, as well as strengthening democratic systems. We carry out, therefore, an intersection between journalistic studies and the political communication in which we seek to investigate how is current journalism is affected by social networks activities. To this end, we assume that printed newspapers are still tuning new and old-news values, in order to balance the demands raised by citizens on social media, guidelines presented in the newsrooms, content that fosters social guidelines and typical denunciations of investigative journalism. The corpus of this work was divided into two parts: in the first one, we develop an extensive theoretical survey that allowed us to look at our research object in a deep and critical way; in the second one, we present our methodology and apply the described theories in order to empirically analyze our object. In this way we use Facebook as a representative of social networks and compare the most shared posts in the Brazilian electoral period of 2018 (09/16/2018 to 10/06/2018) with what was published in the printed newspapers O Globo and Folha de S. Paulo. Firstly, we perform a quantitative analysis of the Facebook data report provided by the “Political Debate Monitor on the Internet” and then we perform a descriptive qualitative analysis, combined with content analysis, of correlations between Facebook issues and localized newspapers publications, action we call “eco of the social media”. We question the eventual contamination of journalistic work by the dynamics of Facebook. The results show, for example, the media committed to following the highlights on Facebook, and Folha de S. Paulo has always been more updated than O Globo in volume and diversity of agendas. We have also found out that the semantic construction of the articles coinciding with Facebook subjects has dedicated more space to values against candidates than to insert new information to the public debate, therefore, behaving more reactively than proactively to what comes from networks. We have also detected some fragility in journalistic work in the fight against fake news. Finally, we highlight in the conclusive notes inconsistencies detected in the conduct of current journalism, we besides leaving notes on research that relate social networks and journalism and suggestions for public communication improving in order to combat the contamination of public debate by misinformation actions.