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https://hdl.handle.net/1822/8410
Título: | Vinculação, temperamento e processamento da informação : implicações nas perturbações emocionais e comportamentais no início da adolescência |
Outro(s) título(s): | Attachment, temperament, and information processing : effects on emotional and behavioural disorders in early adolescence |
Autor(es): | Carvalho, Marina Alexandra Diogo |
Orientador(es): | Soares, Isabel Baptista, Américo |
Data: | 20-Jul-2007 |
Resumo(s): | As perturbações emocionais e comportamentais na infância e adolescência são bastante frequentes
e, particularmente relevantes, dada a sua interferência no funcionamento psicosocial. O estudo dos
factores relacionados com as perturbações emocionais e comportamentais nestas etapas tem
mostrado que um número significativo de variáveis influenciam de forma determinante o seu
desenvolvimento, manutenção e modificação. No entanto, apenas alguns estudos elaborados com o
objectivo de analisar o seu efeito sobre o desenvolvimento e manutenção destas perturbações
abordaram a complexidade das relações entre estes factores. Assim, estudos empíricos, teoricamente
baseados, com vista à identificação dos diferentes factores relacionados com as diferentes
trajectórias desenvolvimentais das perturbações emocionais e comportamentais, são da maior
relevância. Foi objectivo geral do presente trabalho o estudo das relações entre a vinculação, o
temperamento e os enviesamentos no processamento de informação com os problemas emocionais
e comportamentais no início da adolescência.
Numa primeira fase, foi criada e testada, em duas amostras independentes, uma medida de auto e
hetero-avaliação da vinculação na infância e adolescência, o Inventário sobre a Vinculação na
Infância e Adolescência (IVIA). Num primeiro estudo, com vista ao desenvolvimento dos itens e análise
das qualidades psicométricas das duas versões, participaram 577 jovens, 269 do sexo masculino e 308
do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 7 e os 17 anos, e um dos progenitores. Os
resultados mostraram um construto tridimensional parcialmente correlacionado, vinculação segura,
ansiosa/ambivalene e evitante, com valores de fidelidade adequados. As relações entre o IVIA e os
auto-relatos do temperamento, ansiedade social e respostas socialmente desejáveis, suportaram a
validade de construto da medida. A validade discriminante, obtida pela comparação das respostas
dos jovens com a sua classificação nas categorias de vinculação segura e insegura, através da
medida de Hazan e Shaver (1987) apresentou valores aceitáveis. Um segundo estudo analisou a
invariância da estrutura factorial anteriormente obtida na versão de auto-avaliação, através de
análises factoriais confirmatórias. Foi estudada uma amostra de 320 jovens de ambos os sexos, com
idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos. Os resultados obtidos pelas análises factoriais
confirmatórias mostraram a adequação da estrutura tridimensional correlacionada à representação
da natureza multidimensional do construto, em comparação com uma estrutura hierárquica.
Posteriormente, e com vista ao teste das hipóteses subjacentes ao objectivo geral da investigação, foi
estudada uma amostra de 147 jovens clinicamente referenciados, 67 do sexo masculino e 80 do sexo
feminino, com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos (M = 12.09; DP = 1.01), e um dos
progenitores. O protocolo de investigação foi constituido de forma a permitir a recolha de dados em
diferentes fontes de informação (jovens, progenitores, observadores) e em diferentes domínios
(entrevistas, auto e hetero-avaliações, tarefas) no que respeita ao temperamento, vinculação,
processamento de informação e perturbações emocionais e comportamentais.
Os resultados obtidos mostraram que a maior parte dos jovens com um diagnóstico de perturbações
emocionais e comportamentais apresentaram um padrão de vinculação inseguro, em comparação
com os jovens sem este tipo de perturbações. Foi, ainda, obtida um associação diferencial entre o tipo de padrão de vinculação insegura e este tipo de perturbações. Especificamente, as
perturbações comportamentais associaram-se a um padrão de vinculação inseguro de tipo
evitante/desligado, enquanto que as perturbações emocionais se associaram a um padrão de
vinculação inseguro de tipo preocupado/emaranhado/ambivalente.
As comparações entre grupos, em função do padrão de vinculação, para as auto e heteroavaliações
do temperamento e dos problemas emocionais e comportamentais e para a autoavaliação
parental das mesmas características mostraram, de uma forma geral, que os participantes
com um padrão de vinculação inseguro se diferenciaram dos participantes com um padrão de
vinculação seguro. Essas diferenças foram encontradas no que respeita à sintomatologia ansiosa e
depressiva auto-avaliada, aos pensamentos automáticos negativos e aos medos sociais parentais
retrospectivos, variáveis nas quais os jovens com um padrão de vinculação inseguro apresentaram
resultados médios mais elevados.
As diferenças obtidas pelas comparações entre os grupos para o modo de processamento de
informação mostraram algumas interacções entre o padrão de vinculação e os índices dos
enviesamentos avaliados. Os jovens com um padrão de vinculação inseguro de tipo
evitante/desligado apresentaram um enviesamento atencional em relação aos estímulos com
conteúdo emocional negativo e menores tempos de reacção na tarefa de memória implícita quando
completaram palavras com o mesmo conteúdo. Por outro lado, os jovens com um padrão de
vinculação inseguro de tipo preocupado/emaranhado/ambivalente apresentaram maiores tempos
de reacção no reconhecimento e completamento de palavras com conteúdo emocional negativo e
avaliaram a intensidade emocional das expressões faciais ambíguas às quais atribuiram a emoção de
ira como sendo a mais intensa.
A análise das relações entre o temperamento, a vinculação e os problemas emocionais e
comportamentais dos jovens com o temperamento, a vinculação e os problemas emocionais e
comportamentais dos progenitores mostrou um padrão diferencial que dependeu da organização da
vinculação e da desejabilidade social. Independentemente das interrelações entre as variáveis,
apenas no caso dos jovens com um padrão de vinculação seguro foi obtida uma associação positiva
moderada entre a inibição comportamental dos jovens e a inibição comportamental retrospectiva
dos progenitores, e entre a sintomatologia obsessivo-compulsiva nos jovens e nos seus progenitores.
Por fim, foi desenvolvido e empiricamente testado um modelo estrutural, através de análises de
percursos, em amostras separadas de jovens com perturbações emocionais e comportamentais e
jovens sem este tipo de perturbações, que mostrou, independentemente da natureza da amostra, a
importância da vinculação, do temperamento, dos pensamentos automáticos negativos e dos
acontecimentos de vida, sobre os sintomas emocionais e comportamentais dos jovens. Em particular,
no grupo de jovens com perturbações emocionais e comportamentais, a inibição comportamental
mostrou ter, também, um efeito indirecto sobre os problemas avaliados, através dos pensamentos
automáticos negativos.
Os resultados obtidos foram discutidos com base nos modelos teóricos que fundamentaram o estudo
e as suas implicações ao nível da contribuição para a intervenção e a prevenção das perturbações
emocionais e comportamentais na infância e adolescência. Emotional and behavioural disorders in childhood and adolescence are prevalent and particularly relevant due to their impairment in psychosocial functioning. The studies developed in order to assess the main variables related to emotional and behavioural disorders in this developmental stage have shown that a significant number of factors have an effect on their development, maintenance and modification. However, only a few studies carried out to analyse these effects on the aetiology and maintenance of these disorders included the complexity of the relations between and within these factors. Theoretically based empirical studies, with the aim of identifying the different factors related to the diverse developmental paths of emotional and behavioural disorders, are of most relevance. The main aim of the present study was the study of the relationships between attachment, temperament, and information processing in emotional and behavioural disorders in early adolescence. In order to develop and test a measure of attachment behaviours in childhood and adolescence, with two versions (child and parent version), the Inventory of Attachment in Childhood and Adolescence (IACA), two samples were studied. The first sample was composed of 577 children and adolescents, 269 males and 308 females, aged between 7 and 17 years old, and one of their parents. The results showed a three-dimensional partially related construct, secure, anxious/ambivalent, and avoidant attachment, with good psychometric properties in the two versions. Reliability values were also adequate and associations between IACA with self-reports of temperament, social anxiety, and social desirability supported its construct validity. Evidences of its discriminant validity were obtained through comparisons in the Hazan and Shaver’ categorical attachment measure (1987). The second sample was composed of 320 children and adolescents, aged between 10 and 17 years old, in which the invariance of the factor structure previously obtained in the child version was studied. The confirmatory factor analyses partially supported the adequacy of the three-dimensional correlated structure to represent the multidimensional nature of attachment, in comparison with a hierarquical structure. In order to test the hypotheses underlying the general aim of the present study, a sample of 147 clinically referred pre-adolescents, 67 males and 80 females, ages between 11 and 15 (M = 12.09; SD = 1.01), and one of their parents, were studied. Research protocol included data collection through different information sources (pre-adolescents, parents, observers) and through different assessment domains (interviews, self-reports, parental assessments, tasks) to assess temperament, attachment, information processing and emotional and behavioural disorders. The results showed that most of the participants with a diagnostic of emotional and behavioural disorders have presented an insecure attachment pattern, compared to participants without disorders. A differential association was, also, found, between the type of insecure attachment pattern and emotional and behavioural disorders. Specifically, behavioural disorders were related to an avoidant/detached insecure attachment pattern whereas emotional disorders were related to a preoccupied/enmeshed/ambivalent insecure attachment pattern. Comparisons between groups, according to the attachment pattern, for child and parent reports of temperament and emotional and behavioural disorders and for parental reports of the same variables have, generally, shown, that participants with an insecure attachment pattern were different from participants with a secure attachment pattern in anxious and depressive symptomatology and negative automatic thoughts, higher in the first group, and had parents with more retrospective social fears. Comparisons between groups also showed differences in information processing bias, and interactions between attachment patterns and attentional, memory, and interpretation bias. Participants with an avoidant/detached insecure attachment pattern presented an attentional bias in stimuli with negative emotional content and shorter reaction times in the implicit memory task, when completing words with the same emotional content. Participants with a preoccupied/enmeshed/ambivalent insecure attachment pattern presented longer reaction times in recognizing and completing words with negative emotional content and rated the emotional intensity of ambiguous facial expressions previously identified as angry, as more intense. The analysis of the associations between temperament, attachment, and emotional and behavioural disorders has shown a differential pattern, depending on the attachment organization and on social desirability. Independently of the interrelations between variables, only in the case of secure attachment participants, a positive association was found, between behavioural inhibition in preadolescents and retrospective behavioural inhibition in their parents, and between obsessivecompulsive symptomatology in pre-adolescents and their parents. Finally, the model developed was empirically tested, through structural equation modelling, in separated samples of pre-adolescents with and without emotional and behavioural disorders. Independently of the nature of the sample, the importance of attachment, temperament, negative automatic thoughts, and life events on emotional and behavioural problems was confirmed. In particular, in the group of pre-adolescents with emotional and behavioural disorders, behavioural inhibition has, also, shown an indirect effect on the assessed problems, through negative automatic thoughts. Results obtained were discussed based on the theoretical models underlying the research and their consequences for intervention and prevention emotional and behavioural disorders in childhood and adolescence. |
Tipo: | Tese de doutoramento |
Descrição: | Tese de Doutoramento - Área de Conhecimento de Psicologia Clínica |
URI: | https://hdl.handle.net/1822/8410 |
Acesso: | Acesso aberto |
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