Informação relevante na transição dos cuidados de saúde num serviço de urgência tendo em conta a continuidade dos cuidados de saúde

Abstract

A comunicação eficaz entre profissionais de saúde na transferência de informação clínica é determinante para garantir a segurança dos cuidados, contribuindo para ganhos em saúde. Eventos adversos ocorrem como consequência de falhas de comunicação, resultantes da omissão ou deturpação de informação clínica, originando decisões terapêuticas erradas. A transição de cuidados de saúde entre equipas de enfermagem no fim do turno é uma prática recorrente na prática dos enfermeiros. O serviço de urgência é descrito como um contexto de exercício profissional exigente e complexo como resultado do elevado número de doentes e de variações na afluência, da instabilidade clínica do doente e ainda da intervenção em simultâneo de vários profissionais de saúde. Nesta perspetiva, num serviço de urgência, a transição de cuidados entre equipas de enfermagem no fim de um turno, configura-se como um verdadeiro desafio, podendo ser entendido como um cenário de alto risco. A evidência científica demonstra que uma metodologia estruturada de transição de cuidados apresenta resultados positivos, contribuindo para uma prática segura, promotora de ambientes seguros. O sucesso de uma metodologia é garantido pelo envolvimento da equipa de enfermagem, assim como da sua adaptabilidade ao contexto. Objetivos: Compreender a perceção dos enfermeiros acerca da transição dos cuidados de saúde num serviço de urgência; descrever qual a informação relevante para os enfermeiros de um serviço de urgência, na transição dos cuidados, tendo em conta a continuidade dos cuidados de saúde. Método: Estudo transversal, de natureza qualitativo, exploratório, que incluiu 14 enfermeiros que exercem funções num serviço de urgência médico – cirúrgico (SUMC), com uma experiência profissional média (DP) de 10.64 (4.64) anos e com uma experiência profissional no SUMC (DP) de 4.64 (3.85) anos. A amostra comtemplou enfermeiros generalistas e enfermeiros detentores de um curso de pós-licenciatura de especialização em enfermagem. A recolha dos dados foi efetuada com recurso a uma entrevista semiestruturada, as quais ocorreram entre março e junho de 2021. Resultados: Relativamente à perceção dos enfermeiros acerca da transição de cuidados, concluímos existem diferenças entre a transição de cuidados do turno dia/noite face à transição do turno noite/dia, resultante das variações de afluência de doentes. A informação selecionada é determinante para a definição de prioridades e para a continuidade dos cuidados. O facto de a transição de cuidados ser apenas verbal, condiciona negativamente a segurança dos cuidados. O modelo biomédico é dominante no exercício profissional dos enfermeiros no SUMC, no entanto existe a consciência de que deve existir maior visibilidade da autonomia dos enfermeiros aquando da seleção da informação a partilhar na transição de cuidados. Esse momento deve ainda assumir um papel formativo dentro da equipa de enfermagem. A confidencialidade da informação clínica configura-se como um desafio, devendo por isso ser alvo de preocupação por parte dos enfermeiros. No que se refere à informação relevante, tendo em conta a continuidade dos cuidados, identificou-se um conjunto de dados relativamente à informação referente ao doente, evolução da situação clínica atual e informação referente às intervenções autónomas de enfermagem. Conclusões: Globalmente conseguiu-se um elevado nível de consenso em relação à perceção dos enfermeiros acerca da transição de cuidados num SU, bem como da informação que os mesmos apontam como sendo relevante tendo em conta a continuidade dos cuidados, acautelando deste modo a segurança do doente. Identificamos ainda um conjunto de opiniões que corroboram estudos anteriores, o que acreditamos contribui para a consolidação do conhecimento científico.

Effective communication between health professionals in transferring clinical information is determinant to guarantee the safety of care, thus contributing to health gains. Adverse events occur as a consequence of bad communication between professionals, as a result of omissions or misrepresentation of information, leading to wrong therapies decisions. The transition of health care between nursing teams at the end of the shift, is a recurrent practice in nurses' practice. The emergency department is described as a context of demanding and complex professional practice as a result of the high number of patients and affluence variations, the patient's clinical instability and also the simultaneous intervention of different health professionals. In this perspective, in an emergency department, the transition of care is a real challenge and can be understood as a high-risk scenario. Scientific evidence demonstrates that a structured methodology of transition of care has positive results, contributing to a safe practice that promotes safe environments. The success of a methodology is guaranteed by the commitment of the team, as well as the adaptability to the context. Objectives: understand the nurse’s perception about the transition of health care in an emergency department; describe relevant information for nurses in an emergency department, in the transition of care, taking into account the continuity of health care. Method: Cross-sectional study of qualitative, exploratory nature, which included 14 nurses working in a service Emergency Medical - Surgical (SUMC) department, with an average professional experience (SD) of 10.64 (4.64) years and with a professional experience at SUMC (SD) of 4.64 (3.85) years. The sample consisted of generalist nurses and nurses holding a post-graduate course of specialization in nursing. The collection of data was performed using a semi-structured interview, which took place between march and june 2021. Results: Regarding the nurse’s perception about the transition of care, we concluded that the shared information is influenced by the admission of patients and it is differences between the day/night care transition versus the night/day care transition. The information is crucial for setting priorities and for the continuity of care. The fact that transition of care is only verbal, affects in negative way the safety of the care. The biomedical model is dominant in the professional practice of nurses at SUMC, however, there is awareness that must be increased a visibility of the autonomy of the nurses when selecting the information to share in the transition of care. This it must also take on a formative role within the nursing team at this time. The confidentiality of clinical information is a challenge and should be a targeted for nurse’s concern. When we describe the relevant information, considering the continuity of care, it was possible to identify as relevant patient information, the evolution of the current clinical situation and information regarding autonomous nursing interventions. Conclusions: Overall, a high level of consensus was achieved regarding the perception of nurses about the transition of care in an emergency department, as well as the information they identify as relevant taking to the continuity of care, always regarding the patient's safety. We also identified a set of opinions that corroborate previous studies, which we believe contributes to the consolidation of scientific knowledge.