As condições económicas ou de privação material e a saúde física dos europeus de 50 e mais anos: um estudo com base no projeto SHARE

Abstract

Face ao crescente envelhecimento demográfico, emergem preocupações em torno da saúde das pessoas mais velhas, tornando ainda mais pertinente a compreensão do fenómeno das desigualdades em saúde, com vista a combatê-las eficazmente. A relação entre a pobreza ou as condições económicas e a saúde tem sido amplamente estudada. Contudo, os resultados das investigações científicas divergem em função dos indicadores utilizados para mensurar essas condições, que variam de uma abordagem economicista, baseada nos rendimentos, até fórmulas que consideram a riqueza acumulada, passando por medidas de auto perceção e indicadores que refletem a dificuldade em aceder a certos bens ou serviços. Este estudo tem como principal objetivo analisar a relação entre as condições económicas ou de privação material e a saúde física na população europeia e, em particular, na população portuguesa com mais de 50 anos, com recurso a uma análise integradora das várias abordagens conceptuais existentes, através da utilização de diversos indicadores das condições económicas e materiais. O facto dos estudos deste âmbito serem incipientes relativamente à realidade portuguesa, torna ainda mais pertinente o contributo deste trabalho para o conhecimento científico. Assente numa metodologia do tipo quantitativo, realizaram-se análises de regressão linear múltipla aplicadas à amostra de indivíduos que integram o projeto SHARE (Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe), que representam a população com 50 e mais anos de 17 países europeus, e à amostra de indivíduos residentes em Portugal. Os resultados encontrados revelam que quanto piores as condições económicas e de privação material dos europeus com 50 e mais anos, pior a sua saúde física, quando controladas as características sociodemográficas e culturais, saúde mental e os comportamentos de risco em saúde dos indivíduos. No caso de Portugal, a conclusão anterior só é válida para alguns dos indicadores utilizados, relativos às condições económicas. Assim, conclui-se que para uma avaliação precisa das condições económicas e de privação material dos indivíduos com 50 e mais anos é fundamental a utilização de diversos indicadores. Conclui-se também que, em Portugal, as desigualdades de género, em termos de saúde física, deixam de se observar quando são tidas em conta as características demográficas e socioeconómicas dos homens e mulheres de 50 e mais anos.

Regarding the growing demographic aging, concerns about the health of older people emerge, making it even more pertinent to understand the phenomenon of health inequalities, in order to tackle them effectively. The relationship between poverty or economic conditions and health has been widely studied. However, the results of scientific investigations differ according to the indicators used to measure these conditions, which range from an economic approach, based on income, to formulas that consider accumulated wealth, self-perception measures or specific indicators that reflect the difficulty to access certain goods or services. The main objective of this study is to analyze the relationship between economic conditions or material deprivation and physical health in the European population and, particularly, in the Portuguese population 50 years and over, using an integrative analysis of the various existing conceptual approaches, through the use of various indicators of economic and material conditions. The fact that studies in this field are incipient in relation to the Portuguese reality, makes the contribution of this work to scientific knowledge even more pertinent. Based on a quantitative methodology, multiple linear regression analyzes were applied to the sample of individuals who are part of the SHARE project (Survey of Health, Aging and Retirement in Europe), who represent the population aged 50 and over from 17 European countries, and to the sample of individuals residents in Portugal. The results reveal that the worse the economic conditions and material deprivation of Europeans aged 50 and over, the worse their physical health, when controlling sociodemographic and cultural characteristics, mental health and health risk behaviors of the individuals. In the case of Portugal, this conclusion is only valid for some of the indicators used, related to economic conditions. Thus, it is concluded that for an accurate assessment of the economic conditions and material deprivation of individuals aged 50 and over, it is essential to use several indicators. It is also concluded that, in Portugal, gender inequalities, in terms of physical health, are no longer observed when the demographic and socioeconomic characteristics of men and women aged 50 and over are taken into account.