O bebé participa? Contributos a partir da Sociologia da Infância

Abstract

Este estudo tem como objetivo compreender a participação dos bebés em contexto de creche. Sabe-se que cabe ao adulto o papel de organizar a rotina quotidiana no berçário, mas isto não quer dizer que os bebés devam ser apenas espetadores nesse processo. Pelo contrário, eles também podem contribuir para essa organização como interlocutores, desde que o adulto seja sensível aos seus dizeres e os tenha em conta. Ao entender a participação dos bebés como um elemento fundamental para a definição das ações dos adultos no contexto da creche, interessa-nos resgatar a “voz” e ação social dos bebés para compreender na sua complexidade o tema em estudo. Os subsídios teóricos que fundamentam esta tese propõem um diálogo a partir da Sociologia da Infância, que nos permite compreender a criança como um ator social, como uma “interlocutora” que contribui ativamente nos processos sociais através da suaparticipação. Tendo em conta esta perspetiva, a participação dos bebés nesta pesquisa assume uma dimensão sociopolítica, ou seja, assume-se como um direito dos bebés tomarem parte nos assuntos que lhes dizem respeito no contexto da creche, como uma ação influente que provoca, de alguma forma, transformação ou continuidade nos seus contextos de vida. Para tanto, optamos por desenvolver uma investigação situada no paradigma qualitativo e interpretativo, do tipo etnográfico. O estudo é realizado numa sala de berçário de uma creche, de uma Instituição Particular de Solidariedade social (IPSS), situada no norte de Portugal, com 18 bebés entre os 3 e os 18 meses de idade, 2 educadoras de infância e 4 ajudantes da ação educativa. Os instrumentos de pesquisa foram observação direta e registo em diário de campo, vídeo gravação e registo fotográfico. É importante destacar que primamos por alguns cuidados que decorrem de preocupações éticas indispensáveis, os quais são evidenciados no decorrer de todo oprocesso de investigação. Os resultados mostram que a participação dos bebés em contexto de creche está intrinsecamente ligada ao modo como se dão as relações intrageracionais e intergeracionais. No que diz respeito às relações intrageracionais, a participação é vislumbrada à medida que os bebés interagem entre si e as suas ações provocam algum tipo de implicação na ação de outro(s) bebé(s), modificando de algum modo o contexto local das interações estabelecidas entre eles. No que diz respeito às relações intergeracionais pode dizer-se que a participação dos bebés é mais visível em momentos de atividades livres, nas quais há mais possibilidades de os bebés e adultos se envolverem em processos de escuta e negociação. Já nas atividades que envolvem os cuidados básicos dos bebés é mais difícil encontrar possibilidades de participação dos bebés, sobrepondo-se a dimensão da provisão à salvaguarda da participação do bebé. Os dados demonstram ainda que os adultos evidenciam mais constrangimentos do que possibilidades no exercício de participação dos bebés nos espaços institucionalizados.

This study aims to understand the participation of babies in a nursery school. It is known that the adult has the role of organizing the daily routine in the nursery, but this does not mean that babies should only be spectators in this process. On the other hand, they can also contribute to this organization as interlocutors. When understanding the participation of babies as a fundamental element for the definition of the actions of adults in the context of nursery school, we are interested in releasing the “voice” and social action of babies to understand in its complexity the theme in study. The theoretical subsidies that support this thesis propose a dialogue based on the Sociology of Childhood, which allows us to understand the child as a social actor, as an “interlocutor” who actively contributes to social processes through his participation. Taking this perspective into account, the participation of babies in this research takes on a socio-political dimension, that is, it assumes itself as a right for babies to take part in matters that concern them in the context of nursery school, as a significant action that causes, in some way, change or continuity in their life contexts. For this, we chose to develop an investigation based on the qualitative and interpretive paradigm of an ethnographic type. The study is carried out in a nursery room of a nursery school, of a Private Social Solidarity Institution (IPSS), located in the North of Portugal, with 18 babies between 3 and 18 months of age, 2 teachers and 4 helpers. The research instruments were direct observation and recording in a field diary, video recording and photographic record. It is important to say that we emphasize some precautions that result from indispensable ethical concerns, which are evidenced during the entire investigation process. The results show that the participation of babies in the context of nursery school is intrinsically linked to the way in which intra-generational and intergenerational relationships occur. With regard to intra-generational relationships, participation is seen as the babies interact with each other and their actions cause some kind of implication in the action of other baby (ies), somehow modifying the local context of the interactions established between them. With regard to intergenerational relations, it can be said that the participation of babies is more visible in moments of free activities, in which there are more possibilities for babies and adults to be involved in listening and negotiation processes. In activities that involve basic baby care, it is more difficult to find possibilities for babies to participate, overlapping the dimension of the provision to safeguard the baby's participation. The data also show that adults show more constraints than possibilities in the exercise of babies' participation in institutionalized spaces.