Perceções de pornógrafos infantis acerca da evolução e papel do seu comportamento criminal

Abstract

A pornografia infantil é um crime cuja prevalência tem aumentado tanto a nível mundial, como em Portugal. No nosso país, são escassos os estudos que procuram caraterizar os pornógrafos infantis, explorando em profundidade a sua visão sobre este comportamento. Este estudo procurou compreender como os pornógrafos infantis percecionam o seu comportamento criminoso, a forma como evolui e o papel deste nas suas vidas. Realizaram-se nove entrevistas semiestruturadas a indivíduos identificados pelo crime de pornografia de menores e em acompanhamento em equipas de reinserção na zona norte do país. Emergiram três temas centrais: 1) Caraterização dos sujeitos, destacando-se dimensões como impulsividade, ausência de empatia, isolamento social e distorções cognitivas que levam a que não percecionem os menores enquanto vítimas, nem os próprios enquanto agressores e, consequentemente, a pornografia infantil como algo não criminoso; 2) Do acaso ao hábito e à cessação, salientando-se a ocasionalidade do primeiro contacto que evolui para a adoção da visualização de pornografia infantil enquanto estratégia de coping; e 3) Contacto com o Sistema de Justiça, que é conceptualizado de forma positiva. Futuras investigações devem explorar o papel das distorções cognitivas e a adoção de estratégias de coping alternativas por forma a diminuir a reincidência do crime.

Child pornography is a crime that has been rising, not just on a world-wide level, but also in Portugal. In our country, studies that aim to characterize child pornographers by focusing on their point of view about their behavior are rare. This study aimed to understand how child pornographers perceive their criminal behavior, its evolution and its role on their lives. Nine semi-structured interviews were conducted with individuals prosecuted for the crime of child pornography and currently receiving counseling by social reintegration teams, located in the north of the country. Three central themes emerged: 1) Characterization of subjects, highlighting dimensions such as impulsivity, lack of empathy, social isolation and cognitive distortions indicating that children are not perceived as victims, neither the subjects perceive themselves as offenders, and, consequently, child pornography is not a crime; 2) From unplanned behavior to habit and its cessation, emphasizing the randomly first contact that evolves to the adoption of child pornography as a coping strategy and; 3) Contact with the Justice System, conceptualized as a positive experience. Future investigations should explore the role of cognitive distortions and the adoption of alternative coping strategies as way to improve interventions and decrease the risk of recidivism.