Motivações e ajustamento sociocultural de expatriados voluntários em Portugal: um estudo exploratório

Abstract

Os expatriados voluntários (self-initiated expatriates, SIE) são indivíduos que realizam uma experiência de carreira internacional por sua própria iniciativa. Para as organizações, a capacidade para atrair e integrar esses talentos é uma questão-chave na Gestão de Recursos Humanos. Este estudo tem como objetivo identificar as motivações e analisar o processo de ajustamento sociocultural dos SIE que vivem em Portugal. O trabalho empírico, suportado na prévia revisão de literatura, envolveu a realização de entrevistas semiestruturadas a 15 expatriados voluntários. Os dados qualitativos foram sujeitos a uma análise de conteúdo temática, sobressaindo as motivações (fatores de repulsão e de atração) e o ajustamento sociocultural ao país (considerando três dimensões: ao meio em geral, na interação e no trabalho). Os resultados revelam que o desenvolvimento académico, a aventura/oportunidades de viagem/cultura e a qualidade de vida são as motivações mais relevantes para este grupo de SIE em Portugal, seguindo-se fatores como o baixo custo de vida, a independência pessoal, a segurança e o ambiente natural. Os dados revelam, ainda, que o ajustamento sociocultural destes SIE é, em geral, positivo. Apesar de terem enfrentado certas dificuldades na fase inicial, estes indivíduos geralmente conseguiram ultrapassar as barreiras, quer na vida cotidiana quer no que respeita à experiência cultural. Em termos do ajustamento de interação, os resultados mostram que a maioria dos expatriados beneficia de um conjunto diversificado de redes sociais nacionais e internacionais. A dificuldade na comunicação, resultante da limitada competência na língua portuguesa, influencia todo o processo do ajustamento sociocultural dos SIE. O mercado de trabalho para os SIE não se mostrou tão favorável como os indivíduos esperavam. Ressalta-se que fatores como mudanças de vida (em comparação com a vida anterior), apoio social, e preconceitos e discriminação emergiram como os fatores externos que influenciam o processo de ajustamento sociocultural dos SIE. Em contrapartida, como fatores internos a influenciar esse processo destacam-se a personalidade (locus de controlo, extroversão/introversão), a atitude perante novas culturas e as estratégias de enfrentamento. Por fim, são discutidas as principais contribuições teóricas e práticas deste estudo, assim como apresentadas as sugestões para a investigação futura na área dos SIE em Portugal.

Self-initiated expatriates (SIEs) are individuals who undertake an international career experience on their own initiative. For organizations, the ability to attract and integrate these talents is a key issue in Human Resource Management. This study aims to identify the motivations and to analyze the socio-cultural adjustment process of SIE who are living in Portugal. The empirical work, based on the literature review, involved the conduction of 15 semistructured interviews with volunteer expatriates. Qualitative data were analyzed through thematic content analysis, especially considering the categories “motivations” (push and pull factors) and “sociocultural adjustment” in the host country (in general, in interaction and at work). The qualitative results revealed that academic development, adventure/travel/culture opportunities and quality of life are the most relevant motivations for SIEs in Portugal, followed by factors such as low living costs, personal independence, and the natural environment. Data also revealed that the socio-cultural adjustment of SIEs can, in general, be positively evaluated. Although the individuals have encountered difficulties in the initial phase, the SIEs have usually managed to overcome the barriers, both in terms of daily life and cultural experience. Regarding the interaction adjustment, the results showed that most expatriates benefit from mixed social networks, i.e. composed of both national and international individuals. Communicational difficulties due to the limited competence in the Portuguese language influence the whole socio-cultural adjustment. The labor market for SIEs is not as favorable as expected by the study’s participants. Life changes (compared to the previous life), social support and prejudice and discrimination can be classified as external factors influencing the socio-cultural adjustment of SIEs, while personality (e.g.: locus of control, extroversion/introversion), attitude towards new cultures and coping strategies are the internal factors that influence the process. The main theoretical and practical contributions of this study are discussed, and suggestions for future research in the field of SIEs in Portugal are presented.