Evolução da condição de saúde dos dependentes acompanhados por equipas de Cuidados Continuados Integrados

Abstract

Introdução: Em Portugal, no âmbito da criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) surgem as Equipas de Cuidados Continuados Integrados (ECCI). No final do 1º semestre de 2014, as vagas disponíveis para as 272 ECCI existentes a nível nacional, contabilizavam 6.982 lugares dos 13.624 totais distribuídos pelas diferentes tipologias da RNCCI. As ECCI constituem um suporte muito útil às famílias que integram dependentes no autocuidado, quer nas respostas às necessidades destes, quer no desenvolvimento de mestria aos familiares cuidadores. Objetivos: 1) explorar a evolução da condição de saúde dos dependentes acompanhados por ECCI, entre a admissão e a alta clínica; 2) explorar possíveis relações entre as principais variáveis do estudo: potencial de reconstrução de autonomia do dependente; nível de dependência no autocuidado; compromisso nos processos corporais; idade do dependente; número dias de acompanhamento pela ECCI; número episódios de agudização com recurso à urgência hospitalar. Metodologia: Estudo descritivo, exploratório e de perfil quantitativo. A amostra inclui 224 dependentes acompanhados pelas 4 ECCI da área de abrangência de uma Equipa Coordenadora Local de um Agrupamento de Centros de Saúde da região Norte de Portugal. A recolha de dados foi efetuada entre 1 de março de 2014 e 28 de fevereiro de 2015. Aplicado no momento da admissão e no momento da alta, o formulário Perfil de saúde dos dependentes e famílias integrados nos prestadores de cuidados da RNCCI. Assegurados os pressupostos éticos inerentes ao processo de investigação. Resultados: Os dependentes apresentam uma média de idades de 79,4 anos e um tempo médio de acompanhamento das ECCI de 87,5 dias. A maioria: sexo feminino (53,1%), analfabeta (53,1%), casada (54,4%), dependência de instalação gradual (54,9%), referenciada pelas equipas referenciadoras do centro de saúde (54%). Os diagnósticos médicos (ICD9) com maior incidência na admissão foram: pneumonia (24,1%) e AVC (20,5%). Verifica-se uma evolução positiva no nível de dependência global no autocuidado (score médio admissão: 18,4; Alfa Cronbach 0,957, N=224; score médio alta clínica: 23,2; Alfa Cronbach 0,970, N=101). Foi possível avaliar em 137 casos a evolução no nível de dependência entre a admissão e a alta clínica (avaliação intra-sujeitos): 58 melhoraram; 26 sem evolução e 14 pioraram. O score médio global do Potencial de reconstrução de autonomia do dependente foi de 15,7 (Alfa Cronbach 0,957; N=224). Os resultados mostram ainda uma evolução positiva do compromisso nos processos corporais durante o acompanhamento da ECCI. Verificaram-se associações, estatisticamente significativas, entre as principais variáveis do estudo. Conclusões: Neste estudo, no global, verificou-se que os dependentes apresentam grande vulnerabilidade na sua condição de saúde, com níveis elevados de dependência no autocuidado e do compromisso nos processos corporais. Deste modo, trata-se de uma amostra com baixo potencial de reconstrução de autonomia. No entanto, este estudo mostra-nos que o suporte prestado pelas ECCI revela-se de grande utilidade clínica, na medida em que, no global, verificou-se uma evolução positiva na condição de saúde dos dependentes durante o período de acompanhamento destas equipas multiprofissionais.